terça-feira, 16 de outubro de 2012

CIEE, educação e desenvolvimento Brasil - Antonio Delfim Netto

 Centro dá formação humanista a seus "estagiários"

No seu quase meio século de existência, o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) tem sido pioneiro e o mais eficiente instrumento de inclusão social construído pelo setor privado. Numa sociedade em que a atividade econômica é realizada por este - que é a garantia da possibilidade de existência da plena liberdade de iniciativa dos homens - o CIEE é um mecanismo facilitador do funcionamento do "mercado de trabalho", o mais importante de quantos são necessários para uma alocação eficiente da força de trabalho que constitui a própria sociedade.

Ao aproximar e facilitar o ajustamento entre as necessidades das empresas e a disponibilidade de talentos gerados na escola, ele diminui os atritos e harmoniza o encontro. O "estágio" é um verdadeiro "rito de passagem", no qual o portador do conhecimento é transformado no instrumento de promoção da sua prática.

Executa ainda o CIEE duas outras funções de máxima importância. Primeira, a de dar oportunidade para que os talentos com uma ou outra deficiência encontrem a sua identidade dentro da sociedade e se integrem a ela, sem o que jamais poderiam sentir-se úteis e exercer plenamente a sua cidadania. Segunda, a de ampliar o horizonte dos jovens, explorando visões alternativas do "futuro das profissões", elemento essencial na escolha da orientação que influenciará toda a sua vida.
A importância do CIEE é ainda maior por que dando uma formação humanista aos seus "estagiários" previne as graves consequências do empobrecimento do homem pela divisão do trabalho.

Aprofundando a análise de A. Ferguson ("Essays on the History of Civil Society", 1767), Adam Smith revelou os inconvenientes implícitos na divisão do trabalho, condição necessária para o progresso econômico. Isso o deixou na paradoxal situação de colocar em dúvida o processo civilizatório e o aperfeiçoamento moral dos membros dos países engajados no desenvolvimento econômico. Para Smith a "divisão do trabalho" levada ao seu extremo, transforma o operário especializado "tão idiota e ignorante quanto uma criatura humana possa tornar-se".

Smith afirma na "Riqueza das Nações" (1776) que "a inteligência do homem, suas possibilidades de estabelecer ligações imaginárias entre as coisas, seus conhecimentos e suas faculdades morais são profundamente prejudicadas pela divisão do trabalho que o torna um incapaz".

As relações entre o crescimento econômico e a educação são extremamente complexas, mas não pode haver dúvida, são relações profundas e decisivas. O desenvolvimento econômico é um fenômeno termodinâmico. Os países são, naturalmente, soberanos e territoriais (o que é meu é meu), seus habitantes são gregários (quem não é meu, não é meu amigo) e imitadores (com convenções que facilitam suas decisões e revelam uma tendência à igualdade). O processo de desenvolvimento econômico reside da capacidade do país de capturar a energia dispersa na natureza em seu território e dissipá-la no consumo dos bens e serviços de que necessita para a sua subsistência e sustentar a sua dinâmica demográfica.

Todo esse processo é dominado pela acumulação do conhecimento na exploração dos recursos naturais que são sempre finitos. Numa sociedade fechada, sem relações com o exterior, esse fato é claramente visível, mesmo quando a energia provém de fontes renováveis. Primeiro, porque depois de utilizados, o recurso natural volta à natureza degradado, como é evidente na exploração agrícola medieval. Segundo, porque a produção de um bem ou de um serviço produz uma quantidade proporcional de dióxido de carbono equivalente, o que degrada também o meio ambiente.

Numa economia aberta, em que há troca com o mundo exterior, a situação é análoga. O processo de desenvolvimento pode ser um pouco mais eficiente, mas as mesmas restrições valem para o conjunto, o que significa que sem alterações estruturais o desenvolvimento global tem um limite físico condicionado por mutações na dinâmica demográfica dos países, influenciada basicamente pela educação das mulheres e na eficiência no uso dos recursos naturais para aumentar a produtividade, e reduzir a relação CO2 equivalente/por unidade do PIB, produzido, o que depende, basicamente, da educação, da pesquisa e da inovação.

A educação tem ainda um efeito significativo para a paz social, porque além de tornar mais eficiente e acelerar o processo produtivo, ela diminui as distâncias naturais entre os homens, cujo efeito mais visível, mas não o mais importante, é reduzir as desigualdades de rendimentos. A teoria sugere e a experiência empírica confirma, que as sociedades menos desiguais quando utilizam os "mercados" para a alocação dos fatores e dar liberdade de escolha ao consumidor, tendem a ser mais prósperas.
Toda essa discussão por mais importante que seja é extremamente reducionista. É com a educação que o homem conquista a sua humanidade. O homem não é apenas um "fator de produção". A sua eficiência na produção de sua subsistência, derivada da divisão do trabalho é o instrumento para deixar-lhe mais tempo livre para viver a sua humanidade!

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.

VALOR ECONÔMICO
16/10/2012 

O que esperar de Hyderabad - Marina Gross

Ganha destaque na agenda da ONU neste momento pós-Rio+20, a 11ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-11). Em Hyderabad, na Índia, representantes de 192 países mais a União Europeia tentam, desde o dia 8, chegar a um consenso para definir as formas de implementação do Plano Estratégico para a Biodiversidade, elaborado para vencer o desafio de reverter a perda da biodiversidade e dos ecossistemas que a hospedam.

O principal desafio é levantar recursos financeiros necessários para pôr em prática as decisões tomadas por consenso, os 20 compromissos contidos nas Metas de Aichi, definidas há dois anos na cidade japonesa de Nagoya, durante a COP-10. Essas metas estabelecem que até 2020 o mundo precisará reduzir em 50% a perda de habitats naturais e florestas; proteger 17% das zonas terrestres e 10% das zonas costeiras e marinhas; restaurar 15% das áreas degradadas; e reduzir na maior escala possível a pressão da atividade humana sobre recifes de corais. No ano de 2014, na COP-12, vencida essa etapa dos recursos, o foco deverá estar voltado para a implementação de soluções e inovações para atingir as Metas de Aichi.

As mais recentes avaliações alertam que não temos tempo a perder. O estudo "Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade" constatou, em 2010, que os danos ambientais provocaram prejuízos de até US$ 6,5 trilhões por ano para a economia mundial. Essa perda, segundo o estudo, poderia ser reduzida em até um terço se governos e empresas investissem anualmente US$ 45 bilhões na conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos - alimentos, água doce, fibras, produtos químicos, madeira, medicamentos, regulação do clima. A destruição de ecossistemas leva a uma grave perda de ativos da biodiversidade que poderiam estar sendo utilizados de forma sustentável na indústria.
Quem entender a restauração e a manutenção dos serviços ecossistêmicos como essencial para o bom funcionamento dos seus processos e, de forma proativa, liderar as discussões, terá uma vantagem competitiva em relação a futuras regulamentações

O êxito da COP-11 não pode ficar restrito à habilidade dos diplomatas para chegar a um consenso mínimo após as negociações. Certamente, a crise mundial econômica e financeira impactará nas decisões sobre o volume e a origem dos recursos necessários, dificultando um acordo global. Por isso, os resultados da Conferência dependem em grande parte da mobilização dos demais setores da sociedade, seja marcando presença na Conferência da Índia - nas discussões sobre temas estratégicos -, seja articulando internamente em cada país para que seus governos assumam uma posição de vanguarda.

O setor empresarial tem participado cada vez mais ativamente das conferências de biodiversidade da ONU. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) está ao lado de alguns de seus associados apresentando os resultados de uma pesquisa feita este ano com 22 empresas de 10 setores da economia (energia, serviços, mineração, papel e celulose, óleo e gás, holding multissetorial, agrícola, química, equipamentos e cosméticos) sobre os conceitos e ferramentas de avaliação dos serviços ecossistêmicos. O CEBDS promoverá um debate entre governo e setor privado sobre a importância da incorporação dos serviços ecossistêmicos na gestão das empresas e nas políticas públicas.

Também seremos porta-vozes das empresas brasileiras numa reunião de cúpula convocada pela ONU para esta quinta-feira, dia 18, da qual participarão CEOs de empresas e ministros de vários países, para discutir a busca de padrões sustentáveis nos governos e nas empresas. Além disso, acompanhamos de perto as negociações na Índia para facilitar, nacional e internacionalmente, o diálogo entre os setores público e privado.

A dependência e o impacto dos negócios na biodiversidade e nos ecossistemas que os hospedam são questões que começam a entrar na agenda das empresas brasileiras. As externalidades ambientais negativas - gases de efeito estufa, superutilização e poluição da água, lixo e superexploração de recursos pesqueiros - ameaçam os próprios negócios. De acordo com os "Princípios de Investimento Responsável das Nações Unidas" (UNPRI, na sigla em inglês), estima-se que três mil empresas no mundo foram responsáveis por externalidades ambientais negativas no valor de US$ 2 trilhões, em valores de 2008.

As companhias que entenderem a restauração e a manutenção dos serviços ecossistêmicos como essenciais para o bom funcionamento dos seus processos e que, de forma proativa, liderarem as discussões, apresentarão uma vantagem competitiva em relação a futuras regulamentações que também vão impactar o setor privado.

Internamente, temos algumas demandas a serem discutidas. Entre elas, estão a reformulação do marco legal sobre o acesso a recursos genéticos e conhecimentos tradicionais e o estabelecimento das bases para um regime internacional que permitirá o acesso e a repartição de benefícios oriundos do uso da biodiversidade. Essas são questões fundamentais para balizar a formulação de políticas públicas e estimular empreendimentos privados sustentáveis.

A Medida Provisória 2.186-16, de agosto de 2001, ainda é o único instrumento legal disponível no Brasil nessa área. Dúbia e contraditória, a MP contraria até mesmo preceitos básicos da Convenção de Diversidade Biológica. Internamente, é possível buscar a sua revisão visando à modernização dos seus preceitos.

O Brasil, país que detém a maior biodiversidade do planeta, tem que desempenhar - de forma ainda mais contundente - o papel de protagonista no contexto internacional. A COP-11 é mais uma oportunidade para assumirmos a posição de liderança global na corrida rumo à economia verde e contribuir para pavimentar o caminho para a conservação dos ecossistemas e a consequente sobrevivência dos negócios.

VALOR ECONÔMICO
16/10/2012 

O foco da Agenda Pós-2015 - José Eli da Veiga

 Foco dos Objetivos em Desenvolvimento Sustentável precisa ser em políticas que reduzam desigualdades

A promoção de políticas que reduzam as desigualdades precisa ser o foco da Agenda pós-2015 da ONU, que terá imenso alcance histórico se realmente promover a metamorfose dos precários Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) em Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A erradicação da pobreza, foco dos atuais ODM, não garante redução de desigualdades, pois tudo depende da concomitante evolução dos padrões de vida das camadas sociais que já não eram pobres. Minimizar o número de pobres não impede que a desigualdade de renda até aumente se forem superiores os saltos dos demais estratos de renda. Além disso, mesmo a redução de algumas desigualdades pode ser anulada pelo aumento de outras.

Quando se procura a resultante distributiva das recentes conquistas no âmbito da redução da pobreza, o começo da resposta é a confirmação de que a ascensão econômica dos Brics reduziu bastante a disparidade entre os níveis de vida de suas populações em relação às do Norte. No início dos anos 1990, alemães ou franceses eram 20 vezes mais ricos que os chineses ou indianos. Hoje esse hiato não chega a dez vezes. Em decorrência, também houve formidável redução da distância entre as faixas populacionais extremas. Isto é, entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres do mundo. Ela diminuiu tanto quanto havia aumentado desde 1900!

Poderia parecer, então, que uma inédita reviravolta na história da desigualdade de renda mundial teria ocorrido nas últimas décadas. Infelizmente foi o inverso devido à impiedosa reconcentração de renda no interior da maioria dos países. Com raríssimas exceções - entre as quais a do Brasil - nos últimos dois ou três decênios houve uma escalada das desigualdades domésticas, após os longos períodos de estabilidade que seguiram as saudosas quedas de meados do século passado.

Entre 1989 e 2006 passou de 40 para 60 vezes o hiato entre os níveis de vida dos 15 países mais ricos e dos 15 mais pobres. Houve uma estagnação e até recuo dos níveis de vida na maioria dos países pobres, especialmente nos da África, enquanto a cada ano eles subiam 8% na China e 4% na Índia.
Em tais circunstâncias, é preciso antes de tudo priorizar a drástica elevação da chamada Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD), que corresponde às transferências governamentais a título de cooperação ou assistência dos países do Norte aos mais pobres do Sul. Esse tem sido o maior esquema de redistribuição no âmbito internacional desde o final dos anos 1940. Por mais que tenham aumentado as transferências filantrópicas de fundações de direito privado, elas não passam de 10% da APD.

A recomendação de que os países ricos consagrassem ao menos 0,7% de sua renda a tão crucial instrumento para a redução das desigualdades globais já havia sido feita pela Comissão Pearson, tendo como base o balanço do período 1948-68. Todavia, os desembolsos sempre foram bem inferiores. Giraram em torno de metade dessa meta, graças ao alto desempenho de nações como Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda e Luxemburgo, para as quais essa proporção frequentemente supera 1%. No extremo oposto, ela nem costuma chegar a reles 0,2% nos Estados Unidos e no Japão.

Mas a APD começou a se recuperar no início deste século graças justamente à mobilização das Nações Unidas pelos ODM, o que permitiu que voltasse ao nível mais frequente de 0,35%, depois de ter despencado com o fim da Guerra Fria, quando desbotaram boa parte de seus atrativos geopolíticos.
Por isso, o debate sobre a formulação dos ODS no contexto da Agenda Pós-2015 deve dar prioridade não apenas a tornar rapidamente efetivos os 0,7% de APD propostos pela Comissão Pearson, mas também introduzir novos mecanismos redistributivos baseados principalmente em taxas sobre as transações internacionais que tenham impactos ambientais negativos.

O problema é que isso só será possível se houver consenso entre os participantes dessas negociações multilaterais de que o crescimento econômico gera muito menos benefícios na ausência de prévia e concomitante redução das desigualdades materiais. Infelizmente permanece muito mais comum a suposição concorrente: que o crescimento econômico substitui a redução de desigualdades de renda, pois enquanto há crescimento há esperança, permitindo que grandes diferenciais de poder de compra sejam toleráveis.

Nada poderá ser mais útil, portanto, do que garantir que eles fiquem sabendo que os países do Norte com menos desigualdade são os que sistematicamente mostram melhor desempenho em ao menos uma dúzia de dimensões cruciais do desenvolvimento. Em ordem alfabética: coesão social, dependências químicas, doenças mentais, educação, encarceramentos, longevidade, mobilidade social, obesidade, partos de adolescentes, saúde, vida comunitária e violência.

Também será fundamental avisar os negociadores dos ODS de que é nas sociedades avançadas menos desiguais que ocorrem os mínimos de consumismo, os máximos de reciclagem e - muito a propósito - todos os recordes de APD.

VALOR ECONÔMICO
16/10/2012 

Segundo round: Obama x Mitt - Arnaldo Jabor

Hoje, teremos o segundo debate entre Mitt Romney e Obama, em luta pela presidência dos USA. É um dia crucial para todos nós, pelo que pode acontecer ao mundo. As eleições americanas podem mudar nossa vida para melhor ou para muito pior.

A vitória eventual (valha-nos Deus) de um sujeito como Mitt Romney e seu vice coloca no poder tudo de perigoso que a direita tem nos seus 'chás envenenados', os 'tea parties' que desejam recolocar a nação no século 18, sob o pretexto de voltar à velha religião dos fundadores puritanos. Os republicanos têm o mesmo pavor do mundo moderno que os islamitas e cantam como eles: "Gimme that old time religion."

E o perigo aumenta depois que Obama teve um mau desempenho no primeiro debate, em parte por narcisismo, pois estava "se achando", e em parte por ingenuidade, achando que ideias verdadeiras impressionam os eleitores americanos.

Mitt, bem treinado por sua equipe, despejou um discurso de mentiras com altivez e articulação, com sua cara perfeita para presidente, seu rosto "mix" de Clinton com Kennedy, cabelo grisalhos, olhos úmidos e um sorriso irônico nos lábios, tudo estudado para arrasar Obama, que a seu lado parecia um vendedor de amendoim. Os democratas esqueceram que no discurso político importa muito mais o tom, o ritmo da frase, o sorriso na hora certa, a ênfase de falsas certezas, a beleza do rosto "wasp". Mitt parecia um Lula ou um Maluf falando inglês: tudo para a mídia, todas as inverdades ditas com precisão e certeza, diretamente para os 60 milhões de imbecis que elegeram o Bush.

Eu estava nos USA quando ficou claro que a barra ia pesar. Senti um arrepio quando rolou o caso com a Monica Lewinsky, naquele boquete que mudou o mundo - de seus lábios de histérica republicana nascia a vitória de Bush.

A sexualidade foi o ponto de partida. Depois, tivemos o medo careta do Al Gore, que não defendeu Clinton com medo da esposa, tivemos a fraude eleitoral e, em seguida, o 11 de setembro que legitimou o Bush como "presidente de guerra".

Arrepiei-me outro dia de novo, durante a convenção democrata, quando notei um rápido tremor de medo, uma súbita sombra que passou no rosto de Michelle Obama enquanto Clinton fazia seu discurso histórico, arrasando os republicanos. Senti que Michelle por um segundo percebeu que o charme infinito, branco e "wasp" de Clinton poderia eclipsar o marido, sabia que a ajuda de Clinton era excelente e ao mesmo tempo perigosa - poderia relegar Obama para um papel de coadjuvante. Pode ter sido impressão minha, mas confirmou-se no primeiro debate. E talvez se aprofunde no segundo, hoje à noite, quando Mitt resolver com sua equipe de fascistas inteligentíssimos como Karl Rove, voltar atrás e bancar o "moderado", negando todas as barbaridades reacionárias que já proferiu. Se bobear, o negão fica de "radical comuna" e ele de "democrata". Vamos ver.

É impressionante: tudo que vivemos hoje começou com Osama bin Laden e seu lugar-tenente Bush, que cometeu todos os erros que Osama queria. Osama despertou o espírito guerreiro dos republicanos e provocou um estrago no Ocidente, desde as 2 guerras que custaram 3 trilhões, o terrível déficit publico e as sementes da desregulamentação de Wall Street, que provocaram a crise mundial na economia. De certo modo, Osama foi um vencedor e, se Mitt ganhar, ele terá servido sua vingança como um "prato frio".

A nação americana se inflou de novo como sendo o "país excepcional". É como se os republicanos dissessem: "Chega de frescuras de democracia, internacionalismo multilateral, tolerância, bom senso! Vamos botar pra quebrar!"

O que nos choca nisso tudo é a inatualidade do fenômeno. Eles negam a existência do século 20, da ciência, da arte, da politica, da filosofia. Negam Marx, Freud, Picasso, renegam Darwin e seus macacos.

E eles encarnam o pensamento dos milhões de idiotas que jazem entre o hambúrguer e o sofá diante da TV, que acham que problemas se raspam, que dissidências se esmagam, que complexidades devem ser achatadas, que o múltiplo tem de virar "um", que tudo tem um principio, meio e fim. Eles são contra todas as conquistas do pensamento contemporâneo: contra a sexualidade antes do casamento, aborto, homossexualismo, acreditam em Adão e Eva, odeiam o plano de saúde de Obama, odeiam tudo que possa contrariar o atávico individualismo americano, para quem os pobres são vagabundos que fracassaram na vida.

Goya fez gravuras de guerra com o nome "Tristes pressentimentos do que há de acontecer". Na minha pequenez também arrisco profecias:

Se o Mitt for eleito, voltará a grande máquina careta onde todos se encaixam como parafusos obedientes, uma máquina que paralisa o presente num passado eterno, para impedir um futuro que lhes fuja do controle. Os republicanos não têm mais nada a aprender; eles moram na certeza, na eternidade, exatamente como os suicidas de Osama. Como os islamitas, o grande desejo letal, funéreo dos republicanos é a cultura da morte, a destruição de todas as conquistas progressistas dos anos 60 e 70: liberdade, antirracismo, direitos civis. Querem limpar tudo com o detergente da estupidez.

Estamos às vésperas de uma bruta mudança histórica. Sente-se no ar o desejo inconsciente por uma tragédia que pareça uma "revelação". Sim. Diante de tantos fatos insolúveis, surge a fome por algo que ponha fim ao "incontrolável", a coisa que americano mais odeia. Na direita do Pentágono, isso é visível. Mesmo uma catástrofe atômica no Oriente Médio parecerá uma "verdade" nova.

O Islã jamais aceitará a modernização da globalização, jamais aceitará o "individuo", jamais abandonará seu desértico desejo de martírio e o Ocidente está cada vez mais perto do irracionalismo e da vingança. Com isso, os filhotes de Bush terão completado a obra de sua anomalia mental feita de fanatismo religioso, complexo de Édipo e rancor contra as "elite" que sempre o desprezou. Hoje, não percam: mais um passo para nosso destino.

ESTADÃO
16/10/2012 

PAULO SANT’ANA - As aeromoças

Quando eu fui jovem, fogoso, impetuoso, era apaixonado por pés de mulheres.

Hoje, que perdi o viço e o desejo, sou apaixonado por sapatos de mulheres.

Sendo assim, meu presuntivo e inofensivo fetiche de hoje são essas sapatilhas que as mulheres estão usando, uma modelagem de calçados que conseguiu o milagre de fazer as mulheres ficarem belas e elegantes com sapatos baixos, quando isso só era possível, antes, quando trafegavam de saltos altos.

Essas sapatilhas são prometedoras e transmitem-nos fantasias sobre a sensualidade dos pés que escondem, mostrando-lhes apenas as alvíssaras.

É preciso que, imediatamente, os proprietários das empresas de aviação de passageiros tenham consciência de que, no geral, suas aeromoças tratam rudemente os passageiros de aviões.

Elas não agridem os passageiros, mas sua rudeza se demonstra pela indiferença que dedicam a eles.

Passam depressa pelos passageiros nos corredores, como que a transmitir que seriam molestadas se alguns deles lhes solicitassem algo.

Toda a aparência das atuais comissárias de bordo tem um ar ameaçador de que qualquer solicitação de um passageiro perturbaria completamente sua mobilidade, como se esta se destinasse somente às outras providências de serviço que não impliquem contato com os clientes sentados espremidamente nas poltronas.

Foi-se o tempo em que as comissárias de bordo eram verdadeiras divindades para os passageiros durante o voo.

Hoje elas não dedicam mais aos passageiros aquela amabilidade de antigamente, quando eram devocionais no tratamento aos passageiros, verdadeiros anjos de bondade e cortesia.

Será que o treinamento de hoje inclui esse distanciamento frio e calculado das aeromoças? Será que seus instrutores transmitem a elas a ideia de que o passageiro é um chato e de que elas, se o forem atender com gentil dedicação perderão tempo precioso para as outras tarefas importantes que têm na organização da viagem?

Será que essa rudeza é das moças ou é das empresas de aviação, que as conduzem a essa brutal indiferença com os passageiros?

Será que seus instrutores as ensinam a tornar difícil o atendimento para que elas não sejam constantemente chamadas e assim percam seu tempo precioso com a chatice exigencial dos passageiros?

O fato é que as comissárias de bordo perderam no conceito do público aquela imagem de enfermeiras da alma e do espírito que detinham entre todos os que viajavam de avião.

Algo aconteceu. E a impressão que eu tenho é de que uma categoria tão importante como a delas não iria ter modificado assim de repente o seu caráter de serviço atencioso para esta severidade que se verifica hoje em todos os voos, com raríssimas exceções.

Não foram elas que decidiram tornar-se rudes e indiferentes, algumas veladamente agressivas. É certo que foi algum tecnocrata diabólico que bolou que elas modificassem o seu modo tradicional de ser para pior, com a intenção de fazê-las mais úteis ao funcionamento de bordo nas outras tarefas todas que não dizem respeito ao atendimento direto do passageiro.

O fato é que entre nós, os passageiros, as comissárias de bordo perderam aquela imagem de solicitude angelical que possuíam.

E com isso perdeu o público um tesouro de memória precioso que foi construído por milhares de aeromoças que trataram bem seus passageiros durante quase um século.

As aeromoças, hoje, não passam de uma categoria qualquer, honrada, mas sem distinção. Uma profissão singela, igual a todas as outras.

Quando antigamente elas eram na nossa memória um sacrário de sociabilidade.

ZERO HORA
16/10/2012 

DAVID COIMBRA - Aprenda chinês em seis semanas

Houve um homem que desenvolveu um método para aprender qualquer língua, eu disse QUALQUER LÍNGUA, mesmo as mais inóspitas, como o russo, o chinês e o português, qualquer uma em apenas mês e meio. O sistema funcionava à perfeição. Esse homem tornou-se fluente em praticamente todas as línguas europeias, mais grego, copta, latim e outras tantas.

Era alemão e chamava-se Heinrich Schliemann. Já revelarei seu método, e você poderá aplicá-lo também, economizando milhares de reais em cursos de línguas estrangeiras e encantando os departamentos de RH.

Você precisa levar esse Schliemann a sério. Ele foi um personagem importante da trajetória humana – foi quem descobriu Troia, cidade que, havia três mil anos, o mundo acreditava só ter existido na imaginação do cego Homero. Acontece que, quando era pequerrucho, Schliemann ouviu da boca veneranda do pai a leitura da Ilíada e da Odisseia. Ficou fascinado com as aventuras e as desventuras de Aquiles e Ulisses, e prometeu para si mesmo, cerrando o punho e fitando o horizonte:

– Eu vou descobrir Troia!

Para tanto, ele tinha de cumprir alguns requisitos, sobretudo dois:

1. Saber profundamente várias línguas vivas e mortas a fim de interpretar os documentos e inscrições que encontrasse.

2. Ficar rico a fim de financiar suas expedições.

O item 2 é fácil de ser atingido. Qualquer um fica rico, desde que seja um comerciante habilidoso. Schliemann era. Assim, ao atingir a maturidade, viu-se convertido em nababo, com recursos suficientes para investir num sonho.

O item 1 é mais complicado. Aprender uma língua desconhecida exige tempo, concentração, disposição e paciência para ficar repetindo the book is on the table. Só que Schliemann inventou aquele método que agora vou ensinar a você. Preste atenção: consistia, basicamente, em ler em voz alta, mas em voz BEM alta, um texto escrito na língua que ele pretendia assimilar. Para aprimorar o aprendizado, Schliemann contratava alguém como ouvinte.

A pessoa não tinha, necessariamente, de saber um yes, se a língua em questão fosse a de Shakespeare e Megan Fox. Bastava sentar-se, olhar para ele e ouvir como se entendesse o que estava sendo lido. Nessas sessões, Schliemann falava tão alto e por tantas horas, que os vizinhos se queixavam do barulho, e algumas vezes ele teve de se mudar, provando ser balela esse negócio de “os incomodados que se retirem”.

O fato é que o método Schliemann dava bom resultado. Em seis semanas, ele absorvia qualquer língua, propiciando que ele descobrisse Troia, se consagrasse como um dos três maiores arqueólogos da História e conquistasse uma bela e jovem grega, com quem se casou e a quem enfeitou com as joias que julgava terem adornado o corpo perfeito da espartana Helena.

Portanto, se você quiser aprender japonês, por exemplo, já sabe como fazer.

Você acha que vai conseguir?

Eu, aqui, acho que não. Por quê? Porque você não é Schliemann, que era um gênio. Mesmo assim, você pode aprender japonês, se frequentar um curso adequado e se esforçar. Com empenho, as pessoas aprendem as coisas. Até uma atividade que depende fundamentalmente do rendimento físico, como o futebol. Já vi muitos jogadores aprenderem a jogar. É o caso do atacante Leandro, do Grêmio.

O Lauro Quadros disse que ele se atrapalha com as pernas, e é verdade. Porque Leandro é um afoito, suas pernas agem antes do comando do cérebro. Mas Leandro pode aprender. Tem velocidade, tem força nova, que ganhou com treino e vitamina, e, o principal, tem vontade. Talvez não seja um virtuose, como um Romário, que nasceu com o futebol correndo nas artérias e inundando os músculos a cada batimento do coração, mas pode ser grande. Um homem pode aprender a ser grande.

O melhor

Talvez o exemplo mais luminoso de jogador que aprendeu a ser jogador e que venceu pelo esforço, mais do que pelo talento, seja o de Valdomiro Vaz Franco. Quando começou no Inter, Valdomiro era odiado pela torcida. Foi vaiado ao marcar um gol, algo que só se repetiu com Ronaldinho, no Grêmio, por motivos bem diversos. Ao sair do Inter, Valdomiro foi aclamado como um dos jogadores mais importantes da história do clube. Para mim, o mais importante. Como conseguiu essa façanha? Aprendendo. Valdomiro aprendeu a ser bom.

ZERO HORA
16/10/2012 

FABRÍCIO CARPINEJAR - Meu sonho de casamento

Meu sonho é subir ao altar. E uma mulher alucinada gritar do fundo da igreja:

– Não, ele me pertence, eu ainda o amo.

Seria o máximo. O pianista buscaria despistar o pânico tocando Princesa Diana, de Elton John, haveria uma agitação febril no átrio, burburinho e gemidos frenéticos entre os convidados, o padre se manteria de boca aberta, a noiva iria me fuzilar:

– Quem é ela?

Explicaria baixinho no ouvido que é uma antiga namorada sem importância.

Todos os olhos estariam voltados para minha boca, eu roubaria a cena. Finalmente veriam que meu terno preto era Armani, que custou tão caro quanto o véu e a grinalda.

Para manter o suspense, não responderia no ato, giraria o rosto indeciso para o lado esquerdo e direito, como torcedor em partida de tênis. Até emitir a sentença:

– Eu amo minha noiva. Você é passado. Some daqui!

Depois do susto, garantiríamos nosso futuro. Nenhum incidente poderia nos separar de novo.

Ela completaria bodas de ouro comigo, jamais cogitaria a distância, permaneceria fiel vida adentro.

Nada como o pânico para renovar os votos de felicidade. Nada como um dilema para fortalecer decisões.

A reconciliação necessita acontecer antes mesmo da briga. É o medo de perder o par que reforça nossa entrega.

Orgulharia sua família e amigos ao descartar publicamente uma rival, ao mandá-la embora desprovido de piedade.

Aquilo seria a maior prova de amor. Muito melhor do que ser casto em festa de solteiro.

Receberia a confiança eterna de sua aliança, a cumplicidade delicada de sua fé.

Mostraria que sou o tipo ideal, sério e devotado: não estraguei a festa, não humilhei seu vestido, venci as tentações egoístas.

Deveria existir um serviço para contratar “loucos da igreja”. Senhoritas e senhores, disponíveis em books nas agências de publicidade, preparados para protestar no casório.

Contidos no princípio da cerimônia, romperiam o corredor com estardalhaço na hora em que o padre falasse: “Se alguém tem algo contra este casamento, que diga agora ou cale-se para sempre”.

Assim como as carpideiras, recrutadas para chorar em velórios, formariam uma nova categoria profissional, um time de lindos modelos provocando ciúme no noivo e na noiva e apimentando o relacionamento.

Seriam atores e atrizes dramáticos e desesperados realizando uma intervenção amorosa e criando intrigas existenciais.

Todo não pede um sim. Todo governo requer oposição.

Casamento de sucesso depende de torcida contrária.

ZERO HORA
16/10/2012 

PT vai outra vez com o PMDB em 2014 - Raymundo Costa

  "República dos Guardanapos" inibe candidatura Cabral
 
O primeiro turno da eleição municipal de 2012 representou a pá de cal na ideia de uma aliança de esquerda reunindo PT, PSB e PCdoB nas eleições presidenciais de 2014. Já agora, na campanha de 2º turno, o PT dá tratamento preferencial ao PMDB, ao negociar as coligações locais com a premissa de que o partido será o seu aliado na sucessão da presidente Dilma Rousseff.
O PT resolveu solidificar a relação com o PMDB. É uma decisão de "estado-maior". O 2º turno é a expressão dessa decisão. A presidente já havia assegurando aos pemedebistas seu aval ao acordo entre as siglas pelo qual o PMDB assumirá a presidência da Câmara e Senado em 2013.
Há problemas à vista no PMDB. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, lançou o nome do governador Sérgio Cabral para vice de Dilma, no lugar de Michel Temer. A reação se deu no tom gaiato de Geddel Vieira Lima, um dos vice-presidentes da Caixa e aliado de Michel: o que Paes estaria propondo, segundo Geddel, seria a instalação da "República dos Guardanapos" no governo - uma referência a celebrações feitas em Paris, em ambientes cinematográficos, pelo governador, alguns secretários e o empresário Fernando Cavendish, da construtora Delta. Cavendish e secretários foram fotografados com guardanapos amarrados à cabeça.
Outro pemedebista adverte que a CPI do Cachoeira, espécie de cativeiro onde a Delta e seus amigos são mantidos como reféns, ainda não acabou.
Certamente mais de um motivo jogou na lata de lixo a tal coligação de esquerda entre PT, PSB e PCdoB. Na prática, o primeiro turno demonstrou que a ideia não deu certo. Por que? O PT lançou candidato contra o PSB e o PCdoB, onde as duas siglas menores poderiam aspirar a cabeça de chapa, enquanto PSB e PCdoB lançaram candidatos onde o PT era competitivo. A concorrência com o PCdoB não se deu apenas em Porto Alegre (RS), mais visível por se tratar de uma grande capital, mas também em cidades médias e pequenas.
No caso do PSB, é visível para o PT que o partido do governador Eduardo Campos (PE) começou a fazer um jogo próprio com vistas à sucessão de 2014, em detrimento da aliança de esquerda. Essas são as razões alegadas para o PT fazer o próprio jogo, e nesse jogo dar prioridade para o PMDB.
O curioso é que a disputa interna do PMDB deve ser fortemente influenciada pelo futuro do PT, já em discussão, independentemente da eleição ou não do ex-ministro Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo.
Para onde vai o PT? A variável mais importante é o mensalão. Na reunião do Diretório Nacional, após a condenação de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, foi unânime a manifestação de solidariedade aos três ex-dirigentes. De todas as tendências e até dos críticos da gestão de Delúbio como tesoureiro do PT. As propostas foram ousadas, de atos públicos a sessões de desagravo. Menos mal para o PT, agora, é que seus antigos dirigentes, sejam punidos com penas como prisão em regime aberto ou semi-aberto. Será mais fácil de administrar politicamente.
A segunda variável é o futuro de Lula no PT ou o futuro do PT em relação ao Lula. Se Haddad vencer a eleição em São Paulo, Lula será outra vez enaltecido como grande estrategista político e o partido cala o que tem atravessado na garganta: o viés intervencionista do ex-presidente da República. Afinal, ele inventou Dilma e Haddad e eles deram certo. Sem falar de Marcio Pochmann, ex-presidente do Ipea, outra invenção de Lula que passou para o segundo turno. Nesse cenário, os erros no Recife, Belo Horizonte e Fortaleza tendem a ser esquecidos. O ex-presidente passa a ter a unanimidade de um partido que hoje engole, mas não concorda com muitas das decisões do líder máximo.
O outro cenário é Haddad perder a eleição. Ganha corpo a crítica ao intervencionismo do ex-presidente. Lula será responsabilizado pelos "desastres" em São Paulo, Belo Horizonte e Recife. E será lembrado que onde ele deixou de apoiar o candidato do PT, caso de Fortaleza, a prefeita Luizianne Lins levou seu candidato para o segundo turno. Sozinha.
Em particular, o senador Humberto Costa (PT-PE) tem reclamado de que só entrou na disputa do Recife a pedido de Lula. "Nem o João da Costa nem o Maurício (Rands). É você", teria determinado Lula. Humberto foi. Ficou sozinho no Recife. O ex-presidente não passou nem perto da cidade. Os dirigentes petistas sonham com um núcleo maior de decisão, como foi até a eleição de 2002.
Fortalecido, Lula pode influir na escolha do PMDB para o candidato a vice de Dilma em 2014. É conhecida sua proximidade com Sérgio Cabral, assim como a antipatia que tem por Michel Temer. Ocorre que Temer efetivamente aproximou o PMDB de Dilma e do PT. Já na noite da eleição ele chamou o candidato Gabriel Chalita para conversar sobre o apoio a Haddad no segundo turno. O anúncio do apoio foi adiado por um dia porque Chalita tentou impor condições, contornadas com habilidade pelo vice e presidente licenciado do PMDB. É possível que Paes, ao sugerir a vice para Sérgio Cabral, na realidade tenha em vista um ministério com vínculos com o Rio. Mas já abriu uma guerra com o grupo que apoia Temer, como fica demonstrado pela declaração de Geddel.
Aescolha da campanha de Serra de explorar extensivamente o julgamento do mensalão remete a lembrança de alguns políticos, inclusive do PSDB, à campanha presidencial de Geraldo Alckmin em 2006. No primeiro debate, Alckmin foi agressivo, falou de corrupção, mensalão e surpreendeu Lula. O ex-presidente ficou intimidado. Além de não ser do estilo de Alckmin, ao ser muito agressivo, o atual governador de São Paulo exagerou e ao exagerar, perdeu. O mesmo fenômeno pode ocorrer na campanha de Serra: ao exagerar no mensalão, o candidato do PSDB passa a imagem de que disputa o terceiro turno contra Lula, quando deveria estar mais preocupado com assuntos relacionados à cidade de São Paulo. Para efeito de registro, o marqueteiro de Serra é o mesmo que tocou a campanha de Alckmin em 2006, o jornalista Luiz Gonzales.
 
VALOR ECONÕMICO
16/10/2012 

Na Bienal, entre crianças - Maria Esther Maciel‏



Vale a pena ir à capital paulista só para ver a 30ª Bienal de Arte de São Paulo, aberta no início de setembro. Em minha opinião, uma das melhores bienais dos últimos tempos. Sem grandes estrelas da arte contemporânea, sem obras monumentais, sem clima de espetáculo. Grande parte das obras expostas é inédita, e dos 111 artistas que integram a mostra, quase a metade é de novos representantes da arte latino-americana. Entre os brasileiros está o ótimo Thiago Rocha Pitta, mineiro de Tiradentes. 

O conjunto forma uma instigante constelação de nomes e poéticas, que tem o sergipano Arthur Bispo do Rosário como o ponto de irradiação. Muitos dos artistas da mostra dialogam com ele implícita ou explicitamente, seja pela tentativa de ordenação do mundo a partir de arquivos e catalogações insólitas, seja pelo uso de materiais precários extraídos da vida cotidiana ou pela articulação entre imagem e palavra. 

Optei por visitar a Bienal no meio da manhã de uma terça-feira, de modo a evitar as filas na entrada e os transtornos do trânsito paulista. Deu certo. O enorme pavilhão do Parque do Ibirapuera estava bem transitável. A presença maior era de turmas de alunos, creio que de escolas públicas, a maioria na faixa dos 10 anos. Como eu, as crianças chegaram e foram direto à sala de Bispo do Rosário, acompanhadas de professores. E começaram a percorrer, alegres, todo o espaço, fazendo comentários interessantíssimos sobre tudo o que viam e imaginavam. Passei alguns minutos entre elas, só para ouvir o que conversavam. Foi muito divertido.

Toda vez que vejo uma exposição de Bispo fico emocionada, como se nunca a tivesse visto antes. É de uma beleza e uma força poética sem tamanho. Como alguém que viveu 50 anos confinado num hospital psiquiátrico foi capaz de criar obra tão enciclopédica, utilizando como matéria-prima os detritos do próprio cotidiano? Que artesão maravilhoso foi esse, que conseguiu bordar o universo em pedaços de pano? Que arquivista foi esse, que se dedicou a inventariar todas as coisas do mundo, a pedido dos anjos?

Houve um momento em que vi um grupo de meninas rindo diante de um dos trabalhos. Curiosa, fui até lá. O que as divertia era um dos tabuleiros do artista (conhecidos como assemblages ou vitrines) cheio de objetos usados: um pedaço de telefone amarelo de brinquedo, um pé de sandália Havaianas, um chaveiro de loja, uma seringa, um palito grande de fósforo, pedaços de borracha, uma maçaneta de porta (ou seria um abridor de janela de carro?), um pote cheio de carretéis e outro com duas dentaduras. Uma menina, que provavelmente nunca tinha visto uma dentadura na vida, exclamou de repente, com assombro: “Credo! Será que essas gengivas cheias de dentes são de gente morta?”. E a outra: “Parece que os dentes estão rindo fora da boca!”. E todas caíram na gargalhada. Já sobre os carretéis, ouvi o seguinte: “Era aqui que o Bispo guardava as linhas para bordar os panos.”

Lamentei não ter ficado mais tempo perto da meninada, mas o tempo estava passando e eu queria ver os demais artistas. Quando saí da sala, achei que não fosse me desvencilhar dos efeitos hipnóticos da obra de Arthur Bispo do Rosário. Mas logo me entreguei a outras vertigens.
 ESTADO DE MINAS
16/10/2012 

Tereza Cruvinel - Paisagem sem Ulysses‏

O nome de Ulysses reúne hoje sua figura e sua causa, a da construção da democracia brasileira 


Foi no discurso do presidente do Congresso, senador José Sarney, que apareceu ontem a referência sobre uma impensável, há 20 anos, paisagem política sem Ulysses Guimarães. Impensável mas realizou-se, e se tornou, sem dúvida, uma paisagem mais árida, mais pobre, de um impressionismo descolorido. A sessão para homenagear a trajetória de Ulysses e os 20 anos de seu desaparecimento foi uma rápida ressurreição dos grandes momentos da vida parlamentar, daqueles em que as diferenças e as disputas são postas de lado para realçar algo maior, uma pessoa ou uma causa. O nome de Ulysses reúne hoje sua figura e sua causa, a da construção da democracia brasileira. 

Na plateia, havia amigos pessoais com largo conhecimento da esfinge Ulysses, como o restauranteur Marco Aurélio Costa, do Piantella; o jornalista Jorge Bastos Moreno, o ex-secretário particular Oswaldo Manicardi; entre outros. Mas na mesa, Sarney foi quem mais conheceu Ulysses. Conviveram, como deputados, desde 1955. Ele na UDN, Ulysses no PSD. Juntaram-se nos anos 1980 para fazer a transição e eleger Tancredo. Divergiram durante o governo de transição de Sarney, mas, como ele recordou ontem, sempre dentro dos limites do respeito e da civilidade política.

“Quando tínhamos desencontros, silenciávamos para preservar o respeito, e nossas conversas cessavam por um tempo, sem qualquer alteração na convivência, sem elevação de vozes”, recordou o senador.

No governo de Sarney, Ulysses foi chamado de condestável. O senador peemedebista evitou a palavra, mas confessou a enorme deferência que, como nenhum outro presidente da República, teve para com o líder partidário e presidente da Câmara. E, recordando os tempos finais – Ulysses morreu com 76 anos –, lembrou aquela frase tão  repetida: “Sou velho, mas não sou velhaco”.

Havia outra, de que Ulysses também gostava: “O diabo é sábio não é por ser diabo, é por ser velho”.

Antes de Sarney, falou o vice-presidente Michel Temer, confessando a reverência que tinha para com a figura sóbria que o ensinou a valorizar o Legislativo. Podendo, Ulysses nunca quis disputar outro cargo, senão o de deputado. Quantos, hoje, fariam isso?

A chuva caiu e a sessão entrou pela noite, com evocações de Ulysses nos discursos de Rose de Freitas, Luiz Henrique e outros tantos. Sem ele, a paisagem ficou mais árida, mas, se ele estivesse aqui, estaria se batendo pela valorização da política e da representação popular, que vêm sendo tão espancadas.

O vice de Dilma
Antes mesmo do segundo turno, a ampulheta já virou e abriu-se a disputa, por ora dentro do PMDB, pelo lugar de vice na chapa de Dilma à reeleição. Mal o prefeito reeleito do Rio, Eduardo Paes, lançou o nome do governador Sérgio Cabral, um arqueiro de Michel Temer, o ex-deputado Geddel Vieira Lima, disparou a lembrança dos guardanapos na cabeça, naquela foto com o empresário da Delta em Paris. Queimou Cabral.
Dilma tem dito que a vaga é do PMDB e que não vê motivos para trocar Temer. “Se está dando certo num papel tão delicado, por que trocar?” Já teria perguntado.
Mas há ainda a ambição do governador Eduardo Campos, do PSB, que, para não ser candidato em 2014, estaria disposto a pleitear o posto.

Dívidas com o PMDB
Eduardo Campos tem uma grande dívida com o PMDB: o partido bateu-se com disposição para garantir a aprovação do nome de sua mãe, Ana Arraes, para ministra do TCU. Henrique Alves, agora candidato a presidente da Câmara, chegou a desautorizar deputados do partido que pretendiam votar no candidato Átila Lins.
Um pagamento da fatura vem agora: o PMDB espera que o governador desautorize a candidatura avulsa, que estaria em gestação, do deputado pelo PSB mineiro Júlio Delgado ao mesmo posto. Outra parcela o governador pagaria deixando em paz o lugar de Michel Temer na chapa de Dilma.
Talvez ele ache caro demais.
 
Dilema no Maranhão
Em São Luís, a disputa no segundo turno é entre Edivaldo Holanda (PTC), candidato apoiado pelo presidente da Embratur, Flávio Dino, (PCdoB), e o candidato do atual prefeito, João Castelo (PSDB). Ambos são adversários da família Sarney, que, até agora, não anunciou apoio a ninguém. Holanda é da base governista, mas apoiá-lo será fortalecer a candidatura de Dino à sucessão da governadora Roseana Sarney em 2014. Apoiarão Castelo? Há quem duvide.

Sem pauta
Os deputados começaram a voltar ontem a Brasília e precisam mostrar trabalho. O mar não está para peixe na classe política. O líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), reúne os líderes da base governista hoje para selecionar matérias que precisam ser logo votadas. Podem começar com a medida provisória que autoriza a renegociação das dívidas dos estados. Ela precisa ser logo aprovada, até porque muitas negociações já foram feitas e consumadas.


ESTADO DE MINAS
16/10/2012 

CIÊNCIA » Um cérebro evoluído há 520 milhões de anos - Max Milliano Melo‏

Fóssil de um artrópode descoberto na China tem estruturas neurológicas semelhantes às de animais atuais 
 

Max Milliano Melo

Brasília 
– O cérebro é, sem dúvida, a estrutura central da evolução dos animais. Foi ele que possibilitou a conquista do ambiente terrestre, o início do sedentarismo dos seres humanos e da formação de estruturas sociais em inúmeras espécies, desde macacos a baleias. Por essa razão, entender a evolução do órgão é uma das mais importantes etapas para compreender a própria evolução da vida. Cientistas da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, divulgaram mais uma importante peça desse quebra-cabeça. Em artigo publicado na revista Nature sexta-feira, eles afirmam que o cérebro dos animais ganhou os contornos de modernidade bem antes do que se imaginava, há mais de 520 milhões de anos.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores utilizaram como base um fóssil do artrópode Fuxianhuia protensa, encontrado em um sítio arqueológico no Norte da China. Segundo os cientistas, os detalhes da rocha mostram um cérebro anatomicamente complicado. 


“Acreditamos se tratar de um cérebro devido a suas dimensões e posição. Aparentemente, ele se mostra comparável com o de um crustáceo moderno, como um camarão”, explica Gregory Edgecombe, do Museu de História Natural de Londres, principal autor da pesquisa. Segundo ele, as afinidades não são apenas superficiais. “Existe uma semelhança impressionante na anatomia neurológica do artrópode com os insetos modernos e alguns tipos de crustáceo. Isso indica que o cérebro do artrópode evoluiu para permitir que ele tivesse uma boa estrutura de visão”, diz. 
 
Dessa forma, o animal, ao conquistar o ambiente terrestre, teria desenvolvido mais cedo do que esperado uma visão poderosa para padrões evolutivos do período. Essa visão teria sido o pontapé inicial para os artrópodes se tornarem o grupo mais diverso do planeta atualmente – eles representam 84% dos animais existentes na Terra. O grupo inclui insetos, como gafanhotos e abelhas; aracnídeos, como aranhas, acne de pele e alguns tipos de ácaro; e crustáceos, como lagostas e caranguejos. Também estão compreendidos os quilópodes e diplópodes, representados, por exemplo, por centopeias e piolhos de cobra. Ao todo, existem cerca de 1 milhão de espécies desses animais.

“Elo perdido” A expectativas do especialista é de que a espécie Fuxianhuia protensa, descrita pela primeira vez no artigo da Nature, seja o “elo perdido” na evolução dos artrópodes. O cérebro do animal fossilizado é composto por três segmentos, unidos na entrada do que seria a boca do bicho, extinto há milhões de anos. Há ainda traços de tecidos neurais no lugar onde os cientistas acreditam que estariam localizados os olhos. “Ficamos surpresos com um animal com cérebro tão evoluído tão cedo na história dos seres multicelulares”, observou, em comunicado, o neurobiólogo Nicholas Strausfeld, da Universidade do Arizona e um dos coautores da pesquisa.


Nos próximos anos, os pesquisadores precisarão se debruçar sobre uma série de questões que foram abertas a partir do estudo divulgado. Será preciso desvendar, por exemplo, o caminho evolutivo que a espécie seguiu para desenvolver o cérebro tão complexo e como os animais contribuíram para a formação das mais de 1 milhão de espécies modernas de artrópodes. Outro ponto importante que precisará ser elucidado é como e quando surgiram e desapareceram os Fuxianhuia protensa, o primeiro “gênio” que se tem notícia na história dos seres vivos.


A tarefa não será nem um pouco fácil, garante o especialista Graham Budd. “Certos tipos de tecidos como ossos e casca são muito mais propensos a serem preservados no registro fóssil do que outros devido à natureza de sua mineralização”, explica o cientista do Departamento de Ciências da Terra da Universidade Uppsala, na Suécia. Tecidos moles, como músculos, são em grande parte proteicos e, portanto, passíveis de decomposição, sendo menos propensos a resistirem à oxidação, à limpeza, a danos mecânicos e a todas as outras vicissitudes que conspiram para fazer o trabalho de um paleontólogo difícil”, completa. Assim, encontrar outros fósseis do ser ou de outros parentes que ajudem a recontar a história de crescimento dos cérebro é uma tarefa dificílima.


ESTADO DE MINAS
16/10/2012 

Substância do vinho protege idosos de quedas‏

Resveratrol amenizou deficiências motoras em ratos mais velhos após ser consumido por 30 dias. Desafio é desenvolver componente para humanos 


“Por mais raro que seja, ou mais antigo, só um vinho é deveras excelente. Aquele que tu bebes, docemente, com teu mais velho e silencioso amigo”. O poema de Mário Quintana, poeta gaúcho, remete aos encantos sociais de uma das bebidas mais consumidas no mundo. Mas os benefícios não param por aí. Pesquisadores têm anunciado nos últimos anos os ganhos medicinais do consumo de vinho, que se transformou desde um amigo do coração a um inibidor do envelhecimento. Um novo estudo, porém, chama a atenção pelo caráter aparentemente antagônico. A bebida alcóolica tem uma substância que pode ser usada na prevenção de quedas entre idosos.

Trata-se do resveratrol, também conhecido como a “molécula do milagre”, encontrado no vinho tinto. Os cientistas da Universidade Duquesne, de Pittsburgh, dos Estados Unidos, chegaram a esse efeito benéfico da substância depois de experimentos feitos com ratos de laboratório, que recuperaram o equilíbrio em um mês (veja arte). A descoberta pode auxiliar no desenvolvimento de produtos naturais capazes de ajudar homens e mulheres idosos a viverem de uma forma mais saudável e produtiva, acreditam os pesquisadores envolvidos no estudo. “Com a população com mais de 65 anos aumentando, a incidência de problemas relativos à idade também vai crescer. Atualmente, existem poucos tratamentos terapêuticos relacionados às deficiências motoras entre a população mais velha”, comenta Jane Cavanaugh, líder do time de pesquisadores. 
 
Para examinar os efeitos do resveratrol nas funções motoras dos ratos, os pesquisadores alimentaram os animais com a substância durante oito semanas. As cobaias atravessavam um percurso com algumas curvas e tinham o desempenho avaliado. O número de vezes que cada rato idoso dava um passo em falso ou escorregava era contado pelos cientistas. Inicialmente, os bichos com mais tempo de vida tiveram uma dificuldade maior em driblar os obstáculos. Mas na quarta semana de dieta com resveratrol, os problemas de equilíbrio diminuíram. 
“Nosso estudo sugere que um componente natural, como o resveratrol, que pode ser obtido por suplementos ou pela própria dieta, pode ajudar a baixar os níveis de deficiência motora que foram vistos na população mais velha. Isso poderia aumentar a qualidade de vida da terceira idade e diminuir o número de hospitalizações relacionadas às quedas e às escorregadas”, avalia Jane. 
 
A cientista alerta, porém, que o resveratrol não é absorvido totalmente pelo corpo. A  cientista calcula que uma pessoa de 70 quilos deveria tomar quase 700 taças de vinho tinto por dia para absorver a quantidade suficiente da substância que traria algum tipo de benefício ao corpo. A concentração de resveratrol no vinho varia de 1,3mg/l a 7 mg/l. 
 
Os pesquisadores da Universidade Duquesne investigam componentes similares, feito por cientistas, que imitem os efeitos do resveratrol e sejam mais aceitáveis pelo organismo.

Moderação Autor do livro A saúde da água para o vinho, Márcio Bontempo, médico ortomolecular e nutrólogo, avalia que a bebida tem vários componentes benéficos ao corpo. “O vinho, se bem utilizado, funciona como fator de prevenção de diversas moléstias, principalmente as doenças coronarianas, a aterosclerose, o câncer, o enfarte, a pressão alta e muitos outros problemas, sendo capaz de reduzir o processo de envelhecimento e ativar as funções cerebrais”, enumera. “As pessoas que envelhecem tomando vinho regularmente, moderadamente e durante as refeições envelhecem com melhor qualidade de vida, apresentando QI (quantidade de inteligência) mais elevado, maior capacidade de atenção e memorização, melhor capacidade de comunicação e melhor humor”, completa.
A sommelier Daniella Romano alerta que o álcool presente no vinho é fundamental para os benefícios previstos. “O vinho não deve ser consumido em excesso porque, sendo uma bebida alcóolica, faz mal quando tomado em muitas doses. Mas sem o álcool, a bebida vira um suco de uva, sem os benefícios que ofere ce pela adição de outras substâncias.” 

Mais de 600 
mortes em 2010


Uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde (MS) divulgada na semana passada  no Blog da saúde, feito pelo órgão, indica que, em 2010, 667 pessoas com mais de 60 anos morreram em consequência de quedas dentro de casa, principalmente no banheiro. O ministério trabalha com a estimativa de que 30% dos idosos do país sofrerão pelo menos uma queda por ano. Em pessoas com mais de 85 anos, a porcentagem chega a 51%. Os fatores que colaboram para as quedas estão relacionados a alterações fisiológicas do organismo, como a limitação da visão, da audição, da postura, do equilíbrio e da locomoção. Fora de casa, o trânsito e as calçadas malconservadas representam os principais perigos para quem chegou à terceira idade.
 
ESTADO DE MINAS
16/10/2012 

TSE julga namoro e eleição -Daniel Camargos‏

O tucano Arisleu Pires venceu em Biquinhas, mas a oposição diz que ele é inelegível por ter união com mulher que administrou a cidade 
 

Daniel Camargos

União estável ou união afetiva? Ou melhor, nas palavras dos moradores de Biquinhas, a questão é se o atual prefeito, Arisleu Ferreira Pires (PSDB), que foi reeleito, e a ex-prefeita Valquíria de Oliveira Silva (PSDB) engatam “apenas” um longo namoro ou estão casados de fato. A cidade, com 2.630 habitantes, na Região Central de Minas, distante 270 quilômetros de Belo Horizonte, aguarda decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para saber quem será o próximo prefeito. Arisleu foi o mais votado e eleito pela quarta vez prefeito da cidade. No intervalo entre seus governos – de 2004 a 2008 – a prefeita foi Valquíria, o que pode, se comprovada a união estável, provocar a inelegibilidade, de acordo com a Constituição federal.

O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) já negou o registro de candidatura a Arisleu, que recorreu e aguarda a decisão do TSE. Diz o parágrafo 7º do artigo 14 da Constituição federal que “são inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do presidente da República, de governador de estado ou do Distrito Federal, de prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição”.

 “Já fui casado e tenho filho. Sou divorciado e não tenho relação com ela”, afirma Arisleu sobre Valquíria. “Não tenho nada com ele. É o único argumento da oposição, que não consegue ganhar no voto”, ataca Valquíria, negando envolvimento com o prefeito, que é seu aliado político. A ex-prefeita diz que é solteira e mora com os pais. “Isso é conversa (o relacionamento) que fica na boca de meia dúzia de pessoas. Porque nunca levaram uma testemunha da população? Porque ninguém fala isso? Nem o Zé do supermercado e nem a Maria do açougue. Ninguém”, sustenta.

Quem aguarda a decisão e afirma que Arisleu e Valquíria formam um casal é Carlos Alberto Rodrigues Pereira, o Carlos da Vó (PR), que teve 1.229 votos, ante 1.344 de Arisleu. “Ele foi prefeito duas vezes e colocou a mulher dele. Depois voltou e agora quer ficar mais quatro anos. Vão ser 20 anos no poder”, acusa Carlos. O candidato derrotado nas urnas completa: “O prefeito tem facilidade para buscar eleitores em cidades vizinhas. Muita gente de Morada Nova, Paineiras, Nova Serrana e até Belo Horizonte vota em Biquinhas”. A cidade tem mais eleitores que habitantes. São 2.832 que podem votar e 2.630 moradores, uma diferença de 202 pessoas. 

O registro da candidatura está indeferido pelo TRE sob a alegação de que Arisleu mantêm há 14 anos um “forte vínculo afetivo” com Valquíria. O prefeito entrou com um recurso no TSE, mas na última sessão o ministro Dias Toffoli suspendeu o julgamento. A defesa de Arisleu sustenta que a união estável, como reconhecimento constitucional, tem como objetivo a constituição de família, de uma entidade familiar. 

O argumento da defesa de Arisleu é de que o TRE-MG negou o registro sustentando que a relação entre o prefeito e a ex-prefeita é uma “união afetiva” e não uma “união estável”, como veda a Constituição. Os advogados do prefeito afirmam ainda que o entendimento do TRE-MG ampliou as características subjetivas.

 O relator, ministro Marco Aurélio Mello, votou a favor de deferir o registro de Arisleu. O ministro lembrou que em 2008 o TRE-MG, ao examinar a mesma questão com relação à candidatura de Arisleu à prefeitura de Biquinhas, concluiu “pela inexistência da união passível de, em ficção jurídica, ser equiparada ao casamento”. Para Marco Aurélio, o envolvimento do termo “relação afetiva” como causador da impugnação da candidatura “elastece o rol da lei das inelegibilidades”.
 
ESTADO DE MINAS
16/10/2012