quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O fundo alerta e encoraja - Martin Wolf

Em suas relações com seus clientes mais poderosos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) detém "o direito de ser consultado, o direito de incentivar e o direito de advertir". Walter Bagehot, grande jornalista econômico da era vitoriana, deu essa descrição para o papel do monarca britânico no século XIX. Apliquei essa frase ao papel do FMI em uma artigo analítico que submeti à sua avaliação monitoradora trienal de 2011. Na reunião em Tóquio, o FMI cumpriu precisamente esse papel. Mas o que importa é que seus membros, em especial EUA e Alemanha, ajam em função das advertências e incentivos.

A advertência feita no relatório "Perspectivas Econômicas para o Mundo" do FMI foi a seguinte: "A recuperação continua, mas esfriou. Nos países avançados, o crescimento está agora muito baixo para ser capaz de reduzir substancialmente o desemprego. E em grandes economias de mercado emergentes, o crescimento, que era forte, também diminuiu". O FMI revisou sua previsão de crescimento das economias avançadas em 2013 dos previstos 2% em abril para 1,5%. Para os países em desenvolvimento, o fundo reviu sua previsão de 6%, de abril, para 5,6%. O desempenho dos EUA, com uma previsão de crescimento de 2,1% no próximo ano (apenas 0,1 ponto percentual a menos do que previsto em julho), deverá ser muito melhor do que na zona do euro, onde o crescimento é estimado em 0,2% para o próximo ano (0,5 ponto percentual mais baixo do que previsto em julho), após -0,4% em 2012. Até mesmo a economia alemã deverá crescer mero 0,9% em 2012 e 2013. Para a Espanha, a previsão é de uma retração de 1,5% e, então, de 1,3%. A zona do euro é uma jaula para masoquistas.

Não é segredo por que o crescimento está desacelerando em países de alta renda: isso se deve ao aperto fiscal, a sistemas financeiros fracos e intensa incerteza. Essa combinação tóxica é particularmente ameaçadora na zona do euro, onde, mais uma vez, não é de surpreender, países dependentes de exportações estão sendo afetados pelo encolhimento das economias de grandes parceiros comerciais. Conforme demonstra o mais recente "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Mundial", a fuga acumulada de capital das economias periféricas na zona do euro é superior a 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Com efeito, sem apoio, principalmente do Banco Central Europeu, as economias periféricas teriam tido de impor controles de câmbio. Elas poderiam até mesmo ter abandonado a zona do euro. O temor de uma ruptura permanece generalizado - é sempre difícil fazer do masoquismo uma estratégia crível.

Para o FMI a economia mundial está fraca e pode ficar mais fraca se medidas apropriadas não forem tomadas. Mas o fundo está convicto de que a economia se fortalece se houver ação decisiva dos poderosos. Responsabilidade é o ônus do poder.

Até aqui, tudo bastante ruim. Mas mesmo essas previsões depressivas assumem duas premissas possivelmente otimistas. A primeira é que os EUA evitarão o "abismo fiscal" criado por seus legisladores briguentos. Se não for evitado, produzirá um aperto de 4% do PIB. Pessoas sãs sabem o resultado: uma profunda recessão e, possivelmente, deflação. Poderão os legisladores americanos ser tão estúpidos? Devemos supor que não. A segunda hipótese otimista é que "autoridades econômicas europeias tomarão medidas adicionais para fazer progredir os ajustes em nível nacional e a integração em nível da zona do euro. Em consequência disso, a credibilidade da política econômica e a confiança deverão melhorar gradualmente". Será que as autoridades econômicas europeias serão tão eficazes? Essa é uma questão em aberto, ainda que tenham sido mais decisivas, recentemente.

Essas são as advertências. E os incentivos? O FMI argumenta, ousada e controvertidamente, que os multiplicadores fiscais têm sido muito maiores do que o normal na Grande Recessão. Isso dificilmente seria de surpreender, já que agora temos condições keynesianas de taxas de juro próximas de zero e restrições apertadas sobre o crédito. A conclusão do FMI é que os multiplicadores andaram na faixa de 0,9 a 1,7, em vez da premissa padrão de 0,5. Isso significa que um aperto de, digamos, 5% do PIB, aproximadamente o aperto (ajustado pelo ciclo econômico) esperado para a Espanha entre 2009 e 2013, reduziria o PIB entre 5% e 9%, tudo o mais mantido inalterado. Se algo perto disso for verdadeiro, até mesmo o déficit fiscal não melhoraria, pois a receita caiu e as despesas aumentaram.
Um aperto fiscal demasiadamente rápido deverá ser extremamente prejudicial. Em um mundo sensato, as autoridades econômicas aplicariam um forte apoio fiscal à economia e vigorosos esforços de curto prazo para sanear setores privados fracos e superendividados. Elas também fariam grandes esforços de consolidação estrutural de longo prazo. Além disso, estabeleceriam metas fiscais em termos estruturais, e não nominais.

Além disso, que encorajamento oferece o FMI? A resposta principal é: eliminar os "riscos de cauda".
Para os EUA, isso significa suprimir o abismo fiscal, juntamente com um plano de apoio fiscal e melhoria fiscal estrutural de curto prazo. Essa combinação poderia gerar um crescimento surpreendentemente forte, já que o mercado habitacional estabilizou-se, a desalavancagem do setor privado avançou bastante e o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) prometeu apoio sustentado à recuperação. Será bom vencer a próxima eleição presidencial americana.

Para a zona do euro, vejo três passos. O primeiro é avançar com reformas de longo prazo, e a mais importante é a "união bancária": o esforço para cortar os vínculos entre Estados e bancos fracos.
O segundo passo é pactuar logo um programa com a Espanha. O BCE deveria, então, usar sua nova política de compras de títulos soberanos para reduzir para cerca de 3% as taxas de juro sobre dívida governamental. A Alemanha parece estar fazendo a Espanha refém para progredir com o caso grego. A zona do euro somente será capaz de lidar com a Grécia quando reforçar suas defesas para outros países. Quanto à Grécia, é necessária outra grande reestruturação da dívida, desta vez incluindo a reestruturação de empréstimos oficiais. O FMI não deveria aprovar, para a Grécia, um novo programa do qual não resulte um perfil de dívida sustentável. Sem isso, não haverá investimento privado.

O último passo tem que ser ajustamento e crescimento. Um importante número no "Relatório Perspectivas Econômicas para o Mundo" mostra que os desequilíbrios em conta corrente dos países deficitários deverão desaparecer à medida que suas economias encolherem. Mas as previsões não sugerem que os superávits dos países credores diminuirão. Essa é uma combinação (que incentiva o mundo a adotar políticas do tipo "empobrecer o vizinho"). É também imoral e irracional. É essencial que a zona do euro e o mundo sustentem um nível saudável de demanda.

O FMI, como deveria, advertiu e incentivou. A advertência é no sentido de que a economia mundial está fraca e pode ficar mais fraca se medidas apropriadas não forem tomadas. O incentivo está na convicção de que a economia poderá ser fortalecida se houver ação decisiva dos poderosos. Responsabilidade é o ônus do poder. Por isso, ajam agora. (Tradução de Sergio Blum)
Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT.

VALOR ECONÔMICO
17/10/2012 

A criança e o brinquedo : Parte 1- Fernando Brant‏

Dia das crianças, dias das mães e dos pais, dia do índio, dia da mulher, dia do negro. Uns foram criados pelo comércio, ávido de aumentar seu faturamento. Outros lembram lutas centenárias. Mas confesso não assimilar bem essas efemérides. Todo dia é dia da criança, da mãe e do pai. Todo dia é dia do índio, da mulher e do negro. Todo dia é dia de todo mundo. Para que inventaram isso? – eu me pergunto.

Começo com a data em que as crianças são festejadas. Penso nos brinquedos que já comprei e nos que comprarei. No tempo em que minhas filhas eram pequenos amores a enfeitar a minha vida, eu dedicava a elas todo o meu calendário. Beijos, abraços e carinhos. Presença, muita presença, o que era bom para elas e para mim. Minha profissão, sem burocracia nem horários rígidos, ajudava. E assim, estamos aqui, respirando uma cumplicidade que é fonte para a minha existência.

Comprei para elas brinquedos que nunca imaginara ter. Quando eu era a criança, tudo era mais artesanal. Já existiam, ó modernos, bicicletas, velocípedes e os melhores jogos de mesa. Nem sonhava com os aparatos tecnológicos de hoje. Mas o que eu gostava mesmo era de brincar na rua com os amigos. Futebol, bente altas, finca, bolinha de gude. Fora as doideiras, quem não malucou quando criança? Ficava horas em frente à basculante da janela de casa imaginando que era motorneiro de bonde.

Percorria em pensamento todo o percurso, rua após rua, parando a cada ponto de embarque e desembarque, que eram chamados de abrigos, apesar de serem descobertos e não proteger os passageiros nem do sol nem da chuva. Como eu viajei pelas ruas de Belo Horizonte na imaginação. Imitava a cada movimento todos os barulhos que a máquina fazia. Pois eu era um conhecedor daquele veículo, amigo dos que trabalhavam na minha linha.

Anos mais tarde, a lembrança forte do que foi o meu maior amigo entre os que conduziam o bonde do Bairro da Serra, me deu a ideia de escrever uma das minhas canções que mais me agradam: Saudades dos aviões da Panair – Conversando no bar.

Ao lado do Zé Motorneiro, admirando os movimentos de acelerar e frear que ele executava, eu ouvia suas histórias sobre a 2ª Guerra Mundial. O frio da Itália, as batalhas e perigos que viu e enfrentou, o tiro que ele não levou.

O que eu sou hoje devo muito aos Zés motorneiro, açougueiro, barbeiro e sapateiro. Os zés e as marias que povoaram minha infância me ajudaram a acreditar na simplicidade, no trabalho, na honestidade, no carinho e na alegria diante da vida, esse presente que recebemos para compartilhar com muito amor.

ESTADO DE MINAS
17/10/2012 

Frei Betto - Sujeito e objeto‏

A indústria há tempos aprendeu que o consumidor é irracional, não se move por princípios, e sim por efeitos


Frei Betto

O consumismo neoliberal gera, hoje, uma proeza que deixa os filósofos mais encucados: o sujeito humano passa à condição de objeto e o objeto – a mercadoria – ocupa a condição de sujeito. O consumo já não é determinado pela necessidade. Depende, sobretudo, do sonho do consumidor de alcançar o status do produto. Isso mesmo: a mercadoria tem grife, status, agrega valor a quem a porta. Ao obtê-la, o consumidor se deixa possuir por ela. O valor que ela contém, criado pela mídia publicitária e pela moda, emana e impregna o consumidor. 
 
No universo consumista, se alguém deseja ser bem aceito entre seus pares, no círculo social que frequenta, precisa equipar-se com todos aqueles objetos de luxo que o revestem de uma auréola capaz de sinalizar socialmente o alto nível de seu status. Ai dele se não ostentar certas marcas de carro, relógio e roupa. Ai dele se não frequentar restaurantes seletos. Ai dele se não viajar em classe executiva para Nova York, Paris ou uma ilha do Pacifico apontada como o novo point.
 
Caso o sujeito se recuse a ostentar a lista de objetos considerados requintados, corre o risco de ser excluído, deletado do círculo social, que estabelece como código de identificação certo nível mínimo de padrão de consumo. Em suma, o sujeito passa a ser tratado como objeto. Duplo objeto: por se sujeitar à mercadoria e por ser rechaçado por seus pares. Porque no sistema consumista só é aceito quem transita despudoradamente no universo do luxo e do supérfluo.
 
Esse processo de desumanização estimula a obsolescência das mercadorias. Agora se produz para atender, não uma necessidade, mas a um sonho, um desejo, um anseio de alpinismo social. O produto adquirido hoje – carro, computador, iPad – estará obsoleto amanhã. Você pode até insistir em conservar o mesmo equipamento eletrônico, suficiente às suas necessidades atuais. Todos à sua volta constatarão o seu anacronismo. Você perdeu a identidade da tribo, que avança para a aquisição de mercadorias ainda mais sofisticadas, com design mais arrojado. 
 
O único modo de ser aceito na tribo é se revestindo dos mesmos objetos que, atuando como sujeitos, o resgatam do cinzento e medíocre universo do comum dos mortais. Essa inversão do sujeito humano tornado objeto e do objeto transformado em “humano” ou mesmo “divino”. Isso se dissemina por meio da publicidade – que não faz distinção de classes. O apelo é igual para todos. Tanto o biliardário em seu jato executivo quanto o jovem da favela semianalfabeto sofrem o mesmo impacto publicitário. 
 
A diferença é que o primeiro tem fácil acesso aos novos ícones do consumismo. O jovem absorve os ícones em seu embornal de desejos e reconhece o quanto ele é socialmente descartado e descartável por não se revestir de objetos que imprimem valor às pessoas. Daí a frustração e a revolta. A frustração pode ser compensada pela sadia inveja dos espectadores de brilho alheio: leitores de revistas de celebridades e internautas que navegam atraídos pelo canto da sereia de seus ídolos. A revolta leva ao crime – “não sou como eles, mas terei, a ferro e fogo, o que eles têm”.
 
Haverá limites à obsolescência? Um dia, a superprodução fará com que a oferta seja assustadoramente superior à demanda? Tudo indica que não. A indústria há tempos aprendeu que o consumidor é irracional, não se move por princípios, e sim por efeitos. É a emoção que o faz aproximar do balcão. Aprendeu também a fazer a produção acompanhar a concentração de renda. Já não se fabricam carros populares. Quem mais adquire veículos são as famílias que já têm ao menos um. 
 
Agora, na pós-modernidade, as pessoas já não se relacionam, se conectam. Os encontros não são reais, são virtuais. Já não se vive em sociedade, e sim em rede. Ninguém é excluído, e sim deletado. A intimidade cede lugar à extimidade, na expressão de Bauman. Faz desabar todos os muros da privacidade. A ponto de as pessoas se tornarem mercadorias vendáveis, vitrines ambulantes que esperam ser admiradas, desejadas, invejadas e cobiçadas. Daí o oneroso investimento em academias de ginástica, cosméticos, plásticas etc. Muitos buscam ansiosos ser objetos de desejo. Porque a sua autoestima depende da opinião alheia. E o mercado sabe muito bem manipular essa autoestima em baixa.
ESTADO DE MINAS
17/10/2012 

Marcos Coimbra - Aos amigos, tudo...‏

Não foi em resposta aos anseios da sociedade que os ministros mudaram na hora de julgar o mensalão, ficando, subitamente, ferozes 



Onde terão estado nossos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) nos últimos anos? Em que país moravam?

É fato que muitos só chegaram recentemente à Suprema Corte. E que, portanto, não seria razoável perguntar o que fizeram – e, especialmente, deixaram de fazer – no passado frente a casos e decisões que suscitam questões semelhantes às do julgamento do mensalão. 

Como não exerciam a função, nada teriam a dizer.

Mas todos eram cidadãos e profissionais do direito com notório saber e elevada reputação. Muitos pertenciam à magistratura ou ao Ministério Público. Alguns eram conhecidos professores. Outros tinham experiência na administração pública e no Congresso, como assessores de governos ou partidos políticos. 

O que pensavam a respeito dessas matérias? 

Sabemos, por exemplo, como votaram vários dos atuais integrantes do STF quando, em 2006, julgaram inconstitucional o dispositivo da Lei 9.054, que estabelecia uma cláusula de desempenho para os partidos políticos, limitando, na prática, o multipartidarismo caótico que temos. 

Há seis anos, em seu voto, o ministro Ayres Britto foi enfático ao assinalar o prestígio que a Constituição confere aos partidos como forma de associação, sublinhando que ela tem por eles “especial apreço”. E sustentou que a Constituição assegura aos eleitos a liberdade de “escolher lideranças, participar de bancadas, atuar em blocos, participar de comissões (...)”. 

Fez, portanto, a correta defesa da autonomia dos partidos e dos parlamentares. 

Que diferença em relação ao voto que emitiu agora! Nesse, considerou espúria qualquer forma de coligação partidária que perdure após a eleição. Sabe-se lá com qual fundamento condenou algo que a prática política mundial considera absolutamente normal. 

Afinal, para ele, o eleito pode “atuar em blocos” ou não? 

Alguns dos atuais ministros já pertenciam ao STF quando, em 1997, foi votada a Emenda Constitucional 16, que estabeleceu a reeleição. 

Qual foi seu comportamento quando a imprensa denunciou a compra de votos de parlamentares para aprová-la? Quando conversas de deputados a respeito de valores recebidos foram gravadas e publicadas? 

No caso, não se precisava elucubrar sobre se, em determinada votação, o governo comprou determinado voto. Ficava claro quem estava sendo comprado, por quanto e por quê. O beneficiário era óbvio, tinha o “domínio do fato” e a identidade do operador era inequívoca. 

Algum dos atuais ministros ficou indignado? Externou sua indignação? E os que integravam o Ministério Público Federal, se manifestaram? 

Se o fizeram, não ficou registro. Pelo que parece, preferiram um cauteloso silêncio. O inverso da tonitruância de hoje. 

E quando votaram pela ausência de provas contra Collor? Quando consideraram que ninguém pode ser punido sem prova cabal? Estavam errados e estão certos agora, quando dispensam essa formalidade? 

O que explica contradições como essas? 

De uma coisa podemos estar certos: não foi em resposta aos “anseios da sociedade” que mudaram na hora de julgar o mensalão, ficando, subitamente, ferozes. O país sempre desejou firmeza e rigor. 

Talvez alguém afirmasse: “Antes tarde do que nunca!”. Mas seria muito grave se fossem apenas manifestações de um dos piores defeitos de nosso sistema jurídico: a seletividade na administração da Justiça.

Como está em outro aforismo: “Aos amigos, tudo! Aos inimigos, a lei!”.

ESTADO DE MINAS
17/10/2012 

CIÊNCIA » Luva musical para fisioterapia - Roberta Machado‏

Equipamento que gera vibração nos dedos para pacientes acompanharem música ao piano ajuda na recuperação da sensibilidade das mãos de pessoas com lesão na medula cervical 


Roberta Machado



Brasília – Conforme a música toca, as teclas do piano se acendem, indicando onde estão as notas que formam a melodia. O aprendiz acompanha a composição com o auxílio visual e acerta os movimentos com precisão, graças a uma luva que avisa, por meio de vibrações, qual dedo corresponde àquela nota. Esse método de ensino ainda não criou nenhum pianista profissional, mas já teve resultados impressionantes em uma área completamente diferente: a medicina. A luva musical ajudou um grupo de pessoas que sofreram traumas na coluna vertebral a recuperarem parte da sensibilidade perdida nas mãos. 

O invento surgiu no Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, como um sistema de aprendizado. O Toque Musical Móvel, como foi batizado, é formado por uma luva e uma pequena caixa na parte de trás, onde fica o receptor que recebe as informações do programa e as traduz em vibrações nas bases dos dedos do usuário. O dispositivo funciona com uma ligação wireless conectada a qualquer computador ou MP3 player, o que possibilita o uso do sistema em praticamente qualquer lugar.

Logo uma clínica de reabilitação viu o potencial no projeto e convidou os criadores do equipamento a testá-lo na fisioterapia. As lições de piano foram dadas a um grupo de 10 pessoas que tinham perdido parte do tato depois de sofrerem acidentes que afetaram a coluna. Enquanto metade delas apenas tentou acompanhar as teclas que acendiam, as outras contaram também com o auxílio da luva. A rotina de 30 minutos foi repetida três vezes por semana.

Depois de dois meses de treinamento, todos passaram por testes com diferentes texturas e formatos de objetos para medir a sensibilidade dos dedos. Os voluntários que tiveram acesso ao dispositivo apresentaram uma melhora muito mais significativa que o outro grupo. “O que mais surpreende é a grande diferença que houve nas sensações que as pessoas recuperaram depois de usar a luva. Um indivíduo me disse que agora consegue pegar objetos muito pequenos, o que ele não conseguia antes”, descreve Tanya Markow, coordenadora do estudo.
Os pacientes haviam sofrido o dano vertebral mais de um ano antes, um prazo que normalmente indica poucas esperanças de melhoras em um novo tratamento. Depois desse período, a neuroplasticidade dos pacientes limita bastante os resultados da fisioterapia. “Isso foi muito empolgante, porque teve um impacto imediato na vida de alguns dos participantes. Vimos uma diferença muito maior do que esperávamos”, anima-se Tanya. Todos os pacientes que participaram do estudo sem a luva pediram depois para repetir a experiência, dessa vez com a ajuda do equipamento – e conseguiram melhorar seus resultados.

Os usuários que testaram o aparelho chegaram a levar a luva para casa depois das sessões de terapia, e passaram duas horas por dia sentindo as vibrações musicais longe do piano, enquanto realizavam outras tarefas. O “dever de casa” reforçou os resultados do treinamento mesmo sem exigir a atenção dos voluntários. Para os especialistas, o tratamento passivo acionou uma atividade sensória que estava dormente nas mãos, o que lhes garantiu um progresso ainda maior.

Lúdico Na opinião de Hugo Alves de Sousa, professor de fisioterapia do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), o treinamento tem outra grande vantagem. “Todo tratamento que envolve o lúdico não deixa o sujeito se tornar indiferente ao tratamento. Ouvindo uma música, vendo as teclas, ele participa mais, e aquilo vai ter muito mais significado para ele”, avalia. Como o estímulo é feito em três sentidos – tato, visão e audição –, a tendência é que o progresso seja ainda mais reforçado.

Segundo Thad Starner, um dos criadores da luva musical, o sistema não substitui os tratamentos de fisioterapia usados hoje. “É um sistema fundamentalmente diferente, é difícil comparar com outros. Eu sugeriria o uso em conjunto com os tratamentos tradicionais”, pondera o professor especializado em acessórios tecnológicos. “Trabalhamos com a seguinte necessidade: o que acontece se o plano de saúde não cobre mais a reabilitação, um ano depois do acidente? Queremos fazer algo eficiente, barato e divertido, para que as pessoas continuem o tratamento e melhorem”, acrescenta. O dispositivo está em desenvolvimento e ainda não há planos de comercialização do produto.
 
ESTADO DE MINAS
17/10/2012 

Falta consenso sobre vacinas anti-HPV - Bruna Sensêve‏

Como não há opção para atacar todos os tipos de papilomavírus humano, países consideram preço e abrangência das drogas para definir como imunizar 

Bruna Sensêve
Publicação: 17/10/2012 04:00


Em torno de 60 países incluíram a vacina contra o papilomavírus humano (HPV) nos programas de imunização. Na América Latina, Argentina, Panamá, México, Colômbia, Peru e Ilhas Caimã passaram na frente do Brasil e administram doses imunizantes em meninas desde a infância. Alguns desses países apresentam redução de até 90% na incidência de verrugas genitais e, segundo pesquisadores, possivelmente o número de mulheres acometidas com câncer do colo do útero deverá acompanhar esses resultados a longo prazo. Mas há uma questão que divide essas nações. Há dúvidas sobre a escolha do composto ideal para combater o vírus. Pesquisa divulgada, neste mês, na revista The Lancet  traz elementos que vão inflamar o debate: a vacina bivalente, que teoricamente combate uma menor quantidade de tipos do HPV, tem uma eficiência geral maior contra o câncer de colo do útero que a quadrivalente, segundo cientistas da Agência de Saúde Pública do Canadá. 

Aproximadamente 90% de todas as ocorrências de câncer de colo do útero no mundo são causadas pelos tipos 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58 do HPV, sendo que, juntos, os dois primeiros são responsáveis por cerca de 70% dessa incidência. Mais barata, a vacina bivalente foi criada exatamente para atuar nesses principais casos de câncer, relacionados aos tipos 16 e 18. A quadrivalente combate os dois da bivalente e os tipos 6 e 11, responsáveis por manifestações do condiloma culminado, popularmente conhecido como verruga genital. 
Os cientistas canadenses realizaram uma meta-análise de cinco estudos que avaliam o efeito cruzado das duas vacinas, ou seja, quão eficientes elas podem ser para tipos de HPV além dos especificados em suas composições. A vacina bivalente, segundo eles, apresentou resultados de proteção muito superiores aos da quadrivalente para os tipos 31, 33 e 45. Os dados para os tipos 52 e 58 não foram significativamente diferentes entre elas e inexpressivos para proteção. Os resultados do estudo confrontam, por exemplo, com decisão recente do Reino Unido de trocar a opção bivalente pela quadrivalente. 
 “É uma questão extremamente importante que pode dirigir a escolha tanto individual quanto na saúde pública. Porém, existem vários fatores a serem analisados, como segurança, eficiência e durabilidade desses efeitos”, avalia Luisa Lina Villa, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Doenças do Papilomavírus Humano. A médica detalha que os benefícios cruzados encontrados na vacina bivalente são momentâneos, já que ela não foi criada para combater aqueles tipos de vírus, diferentemente do que ocorre com os HPVs 16 e 18. Somente quando houver uma vacina voltada para os nove principais tipos, acredita a especialista, será possível verificar uma proteção assertiva, duradoura e altamente eficaz contra o vírus. 
“As duas vacinas estão aprovadas para os programas de imunização de mais ou menos o mesmo número de países, com uma tendência para a bivalente na América Latina. Mas todos os pesquisadores e médicos tendem a olhar para a vantagem adicional daquela que protege também contra as verrugas genitais (a quadrivalente)”, analisa. Luisa Villa alerta que, mesmo consideradas lesões benignas, as verrugas genitais podem ser mórbidas, requerem muitos tratamentos e são altamente infecciosas. Aquelas que acometem o trato respiratório podem levar à asfixia, por exemplo. “Tendemos a valorizar pouco o impacto da verruga pelo fato de ela ter um tratamento mais ou menos simples, mas existem consequências psicológicas, culpa e vergonha para o paciente que não são desprezíveis.”

Atraso brasileiro No Brasil, as vacinas contra o HPV só são encontradas no setor privado. O preço significativamente alto afasta grande parte da população. A aplicação de uma dose da quadrivalente varia entre R$ 320 e R$ 400. A da bivalente custa cerca de R$ 200. Em ambos os casos são necessárias três doses para a imunização completa.
O Ministério da Saúde não consegue estimar quando as vacinas elas estarão disponíveis na rede pública. De acordo com o órgão, até o fim deste ano deverá ser finalizado o levantamento técnico que avaliará a adoção da vacina contra o HPV no país. Além das vantagens e desvantagens de cada tipo, a pasta analisa as propostas dos produtores quanto à transferência de tecnologia para a produção nacional. A previsão é de que, em janeiro de 2013, sejam tomadas as decisões definitivas. “Estamos falando de um programa nacional de imunização. São mais ou menos 35 mil postos de vacinação que precisam estar preparados para administrar a vacina corretamente. Não é um processo que ocorre de um ano para o outro”, afirma o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa.
 Professor e chefe do Setor de Doenças Sexualmente Transmissíveis da Universidade Federal Fluminense (UFF), Mauro Romero defende o uso da vacina quadrivalente e critica a demora de sua adoção pelo Sistema Único de Saúde. “Estamos falando de omissão. O preço é um problema para a imunização. Uma coisa é uma pessoa ir a uma clínica particular e comprar uma dose. Outra coisa é o governo comprar uma grande quantidade a um preço bem menor”, argumenta. 
Barbosa ressalta que o impacto da vacina na mortalidade por câncer do colo do útero só poderá ser sentida 30 anos depois do início da vacinação.  “Já conseguimos um redução da mortalidade por ter uma boa estratégia de detecção precoce pelo exame papanicolau e o tratamento de lesões. A vacina vai ser uma importante aliada, mas não substitui essas iniciativas”, pondera o secretário de Vigilância em Saúde. No mês passado, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou projeto de lei que garante o direito de meninas entre 9 e 13 anos de receberem gratuitamente a vacina contra o HPV na rede pública de saúde. O texto ainda deverá ser aprovado pela Câmara dos Deputados.

Ação inédita 
em são paulo


Taboão da Serra, no interior de São Paulo, foi o primeiro município brasileiro a vacinar meninos e meninas do 5º ano de todas as 25 escolas de ensino fundamental da cidade contra o HPV. A primeira dose da vacina foi ministrada em indivíduos do sexo masculino, no mês passado. Os homens normalmente apresentam menos sintomas e doenças associadas ao HPV, embora sejam os principais responsáveis pela transmissão do vírus às mulheres. Para entender a vacinação, a prefeitura realizou palestras com diretores, professores e profissionais de saúde, que tiraram as principais dúvidas sobre infecções e doenças. A segunda etapa vacinal está prevista para 5 e 9 de novembro. A última, entre 11 e 15 de março de 2013. Considerado um modelo mundial da vacinação contra infecções e doenças causadas por HPV, a Austrália anunciou que começará a imunizar os meninos a partir do ano que vem.


ESTADO DE MINAS
17/10/2012 

Homem de série - Simone Castro‏

O jogador Neymar dá um tempo nos gramados e encara mais uma participação na telinha


Depois da participação especial na temporada passada de Malhação e também na série Aline, ambos programas da Globo, o jogador Neymar vai voltar à cena. O craque do Santos participa do episódio que vai ao ar no domingo de (fdp), série da HBO que tem como protagonista um árbitro de futebol – na vida real, alguns estão dando o que falar. Neymar fará o papel de um técnico de manutenção de filtro na casa do presidente da comissão de arbitragem. E, entre os atletas, Neymar não está sozinho na empreitada. O ex-jogador colombiano Freddy Rincón, que passou pelo Palmeiras, Corinthians, Santos, Real Madrid e também pela seleção de seu país, é outro convidado da atração, no episódio batizado “Cartão amarelo”. 

VILÃ PODE SE REDIMIR NO 
FINAL DE AVENIDA BRASIL


Depois que João Emanuel Carneiro, autor de Avenida Brasil (Globo), divulgou que Carminha (Adriana Esteves) terá um “final surpreendente”, muita gente já descartou os desfechos óbvios para a malvada: morte, cadeia, fuga. E aí, dentro dessa ótica, pode-se desconsiderar um desfecho que anda rolando por aí, a de que ela matará Nina (Débora Falabella). Se não o fizer, não irá para a cadeia e nem precisará fugir, a menos, claro, que ela tenha matado Max (Marcello Novaes). Mas se matou Max, por que não aproveitou e deu cabo também de sua desafeta? Daí que o final para Carminha poderá ser, como já está sendo divulgado, sua redenção. É que ela entregaria o pai, Santiago (Juca de Oliveira), por todos os seus crimes. Ficou claro, no capítulo de anteontem, o motivo pelo qual ela sente horror do pai: ele abusava sexualmente dela. Caso Lucinda (Vera Holtz) realmente morra, como também se especula, Carminha se tornaria a nova Mãe do Lixo, cuidando das crianças e encontrando na missão uma maneira de expurgar seus pecados. Será? Mas há quem preveja um final sangrento entre Nina e Carminha, do tipo neste mundo só há lugar para uma. Ah, que venha logo esse último capítulo!

TRUPE DO CASSETA TERÁ 
REFORÇO MUITO ESPECIAL


A segunda temporada do Casseta & planeta vai fundo, que estreia em novembro, na Globo, terá várias participações especiais. A cada programa se juntarão à trupe convidados como Lília Cabral, Cássia Kiss, Fernanda Vasconcellos, Fiuk e Bruno Mazzeo. 

EDUARDO COSTA CONTA
QUE ESTÁ APAIXONADO


Marília Gabriela recebe hoje o cantor mineiro Eduardo Costa no De frente com Gabi, à meia-noite, no SBT/Alterosa. Natural de Abre Campo, ele resolveu ir na contramão das duplas sertanejas e cantar sozinho. Com mais de 200 shows por ano, Eduardo Costa é fenômeno musical no gênero. Aos 32 anos, ele fala no programa sobre a infância sofrida, as dificuldades e alegrias da carreira e entrega alguns pontos da vida pessoal. O cantor, que estaria namorando Helen Ganzarolli, confirma que o romance vai bem, mas que ainda não há planos de casamento. Eduardo relembra que chegou a passar fome, e hoje tem um jet ski e um barco, “mas não para ostentação”. Ele conta, ainda, que morou em um bordel por necessidade e “o Leonardo (cantor) porque gostava”. Sobre a carreira, garante que não dubla, não gosta de playback, que prefere cantar rouco que enganar o público. “Diziam que eu nunca ia fazer sucesso por ter o timbre parecido com o do Zezé Di Camargo”, afirma, vitorioso.

NARCISA VIRÁ COM TUDO 
NO NOVO MULHERES RICAS


Depois de um zum-zum-zum dando conta de que a socialite Narcisa Tamborindeguy estaria fora da segunda temporada do reality show Mulheres ricas, a Bandeirantes confirmou sua presença no programa, que deve voltar em janeiro de 2013. Também já assinaram contrato a atriz Andréa de Nóbrega, a cantora Aeileen Varejão e a empresária Cozete Gomes. A emissora ainda negocia a participação de Mariana Mesquita, mulher do ex-jogador Luisão. 

XUXA NA JUSTIÇA

A apresentadora Xuxa Meneghel foi condenada pela juíza da 6ª Vara Cível da Barra, no Rio de Janeiro, Flávia de Almeida Viveiros de Castro, a indenizar em R$ 50 mil o autor dos personagens da Turma do Cabralzinho, série sobre a história do Brasil. Da decisão cabe recurso. A empresa Xuxa Promoções e Produções Artísticas foi acionada por danos materiais, violação dos direitos autorais e uso indevido da marca. De acordo com a sentença, personagens da série Turma da Xuxinha foram copiados do enredo criado pelo publicitário mineiro Leonardo Soltz. Em a Turma do Cabralzinho, seis personagens inspirados em figuras históricas narram o descobrimento do Brasil usando jogos e diversão para tornar o aprendizado parte da brincadeira. Procurada pela imprensa, a assessoria da apresentadora diz que não comenta assuntos jurídicos.

viva

Débora Duarte é mais uma que rouba a cena em Lado a lado (Globo). Sua personagem, Eulália, me perdoem o trocadilho, é hilária. Ela é daquelas sogras bem rabugentas que adoram implicar com a nora e, para isso, tenta arrumar marido para a neta. 

vaia

Em Avenida Brasil, as cenas da fuga das mulheres de Cadinho (Alexandre Borges), seduzidas pelo homem que o roubou, tem que ter um sentido: elas devem estar tentando recuperar a grana do marido. Do contrário, é mais uma bobajada do núcleo. 


simone.castro@uai.com.br

ESTADO DE MINAS
17/10/2012 

PAULO SANT’ANA - Necrológio

Solicitei ao Ibsen Pinheiro que me escrevesse um texto imaginando o meu enterro, os discursos dos pósteros, os elogios, a multidão.

Ele escreveu o seguinte e eu transcrevo:

“Não esqueci a encomenda para escrever teu necrológio. Vou fazer do modo combinado, antes da tua morte e, naturalmente, da minha.

A ideia é de gênio, pois é tua. Consideras uma injustiça que alguém não possa assistir ao segundo ato mais relevante da sua vida (opa!), depois de ter perdido por desatenção o primeiro.

Difícil apontar sensação mais gratificante do que escutar elogios, especialmente os exagerados, sem falar nos melhores, os imerecidos, e ver os amigos emocionados e os inimigos calados.

No seu famoso elogio aos mortos, Péricles analisou o chavão e concluiu que, ao contrário da aparência, esse é o maior momento da sinceridade humana, pois não se move pela inveja e não corre o perigo de ser desmentido pelos atos futuros do elogiado.

Gostei muito da ideia e passei a achar que ela deve ser compartilhada. Vamos todos trocar necrológios. Condição: uma certa idade. Ou incerta, sempre de difícil confissão/comprovação. Que tal 70 anos? Setentões já estão no lucro. Provaram que ao menos uma morte não é inevitável, a precoce.

Quanto ao formato, é melhor fazê-lo ao vivo, enquanto é tempo. E via oral, uma especialidade que se adquire com os anos. Reuniríamos os setentões de uma patota, a nossa, não a dos colorados, pois tu ficarias de fora, nem a dos gremistas, que, como se sabe, são imortais, e trocaríamos necrológios discursados. A patota da Rua da Praia, que inclui a todos, até os passageiros.

Na falta do Capri ou do Café América, deve existir por lá, ainda, um bar ou restaurante, mesmo sem porta para a calçada. Mas tem que ser logo, não queremos desfalques de última hora.

Fica a ideia. Já estou rabiscando tuas últimas palavras. Abraço setentão do (ass.) Ibsen Pinheiro”.

O campeonato brasileiro está imerso num escândalo. Nas quatro últimas partidas (sucessivas) do Fluminense, o tricolor carioca foi premiado por vários e decisivos erros de arbitragem que lhe deram os 12 pontos. Eram pênaltis que não havia a favor do Fluminense, pênaltis que o Fluminense cometia e os árbitros ignoravam, faltas invertidas que redundavam em gols do Fluminense, uma roubalheira escancarada que vai acabar manchando o título do Fluminense, praticamente já assegurado.

E o Atlético ganhou de presente um pênalti inventado para poder vencer o Sport e assim tirar na marra, na desonestidade, no escândalo, o segundo lugar do Grêmio.

Uma máfia está montada na CBF para dar o título ao Fluminense: a prova está no que o Cacalo constatou ontem: nos últimos 10 jogos do Fluminense, não apitou sequer um árbitro da Fifa, isto é um indicativo de que a máfia escolheu juízes sem futuro e sem responsabilidade para brindar o Fluminense com verdadeiros roubos, vergonhosos favorecimentos.

Só não vê quem não quer, é um campeonato de botequim, arranjado, viciado, mexido, roubado.

Roubado!

E vocês se lembram de que há 18 dias comecei a perceber a mutreta e botei a boca no trombone no Sala de Redação?

Agora já está todo mundo denunciando o escândalo.

17/10/2012
ZERO HORA 

JOSÉ PEDRO GOULART - A virgem e o MMA

Li aqui e ali, é notável: a maioria desaprova a decisão da moça de Santa Catarina que decidiu leiloar sua última célula de inocência num evento na Austrália. O pessoal é romântico, ela não. Diz que entrou na história pelo dinheiro, chegou a dizer que iria doá-lo para caridade, depois parece que recuou.

O fato de haver quem pague por uma virgem é interessante. O mito do sangue tirado por uma estocada viril; troço bobo, mas ainda assim passível de manchete no jornal. E ainda há leis que proíbem a prostituição – é o caso nesse caso, a moça teria que estar num avião, sem pátria ou bandeira constituída a lhe regrar e punir.

Ao mesmo tempo, por aqui, bem longe da Austrália, uma outra tradição: um circo de mais de 2 mil anos. O Anderson Silva também quer sangue, só que dos adversários. Ele arranca hemoglobina dos fortões com as mãos, com os pés, com o joelho. A maioria vibra por cada gota despejada nos tablados do UFC. Você vê pessoas chiques, bem vestidas, entrando no evento, artistas dando entrevistas, locutores ufanando os lutadores.

Se há leis que restringem o sexo pago, na arena vale quase tudo. Vi uma cena em que um braço é torcido até quebrar, numa outra, o sujeito tem a garganta apertada, em seguida o sangue escorre do nariz. A plateia uiva. Brasileiros batendo, americanos apanhando. Um dos sujeitos se chama Minotauro, outro é o Spider – míticos, épicos, antológicos. Todos patrocinados por grandes empresas, que ninguém é bobo de ficar de fora do bafão.

Sexo reprimido, violência liberada. Tem sido assim através dos tempos. Neste país, uma mulher, se tirar a parte de cima do sutiã numa praia, pode parar na cadeia. De modo que a reprovação à moça que resolveu leiloar a virgindade foi imediata, você pode oferecer seu corpo para ser espancado, massacrado, arrebentado em troca de grana, mas não para ser lambido, acariciado, chupado.

Enquanto escrevo estas linhas imagino a guria de Santa Catarina, olhos amendoados, passando creme perfumado no corpo, coração disparado, e convenientemente longe de casa. Adeus, mundo inocente, agora é pra valer.

Segundo as regras do combate – eu disse combate? – o sujeito que der o lance maior, até agora cerca de R$ 450 mil, vai encarar o evento com limitações, não pode usar brinquedos/objetos sexuais e não pode beijar. Não pode beijar? Esse mundo.

ZERO HORA
17/10/2012 

MARTHA MEDEIROS - Simples

“Afugento qualquer pretensão filosófica que dificulte o trato com as coisas simples.” Quando li essa frase de Nélida Piñon, tive vontade de ampliá-la, imprimi-la e pendurá-la na parede, só não o fiz porque não seria preciso: trago esse conceito já aderido na pele e na alma.

Talvez por isso tenha gostado tanto do novo livro do David Coimbra, Uma História do Mundo, que poderia ser considerado um projeto ambicioso, não fosse o David um homem consciente do tempo em que vive: quem, hoje, consegue dedicar-se a calhamaços com milhares de páginas? A vida exige dinamismo. David conseguiu apresentar um panorama histórico desde o neandertal até o início da civilização moderna em 260 páginas.

E, nessas 260 páginas, além de traduzir informações sérias para uma linguagem divertida, ele conecta passado e presente utilizando trechos de Marcel Proust, Charles Bukowski e Mario Quintana, e ainda faz graça ao explicar de onde veio o nome da banda Jethro Tull. David é pop. A história do mundo também pode ser. Como?

Simples.

A simplicidade é a principal porta de entrada para a sabedoria. Dois, três degraus, e a pessoa está dentro. Uma vez seduzida, ela então irá decidir se deseja se aprofundar no assunto, e aí, lógico, irá buscar novos acessos que a façam imergir no que lhe interessa, e a viagem se tornará ainda mais excitante e talvez ininterrupta, mas o que a faz iniciar esse percurso rumo ao conhecimento é a curiosidade, a atração e a identificação com um linguajar que estabelece uma agradável comunicação.

O professor Cláudio Moreno faz o mesmo com suas crônicas sobre a Grécia Antiga. Alain de Botton elimina ao menos seis cabeças do monstro de sete que sempre foi a filosofia. Paulo Leminsky e demais poetas da geração anos 80 demonstraram que poesia não precisava ser necessariamente chata e incompreensível. A simplicidade sempre foi um dom, apesar de levantar suspeitas.

Os impressionistas (Van Gogh, Monet, Cézanne, entre outros) foram inicialmente desprezados pelos críticos da época. As primeiras exposições desses artistas que hoje são considerados gênios se deram no “Salão dos Recusados”. Os impressionistas eram assim denominados porque pintavam a impressão em detrimento do detalhe. E toda impressão pode ser rapidamente confundida com impostura.

A simplicidade concentra a verdade das coisas – não toda a verdade, mas o seu núcleo, um ponto de partida universal, de onde tudo poderá se tornar mais abrangente, grandiloquente e complexo, à escolha do freguês.

Segundo o filósofo e escritor Eduardo Gianetti, muita gente só se impressiona com o que não entende bem. Já a simplicidade é direta, translúcida e estabelece rápida conexão. Para desconsolo dos herméticos.

ZERO HORA
17/10/2012 

Leite condensado e formicida? - ROBERTO DaMATTA

Alguns leitores generosos responderam ao meu apelo e escreveram soluções para o dilema do meu personagem que, na semana passada, livra-se de um câncer no pulmão direito e esquerdo, somente para enfrentar os elos sinistros entre o formicida (o veneno que extermina) e o leite condensado (remédio que mata se ingerido em grandes doses).

Começo com o Luiz Pinto de Carvalho, cujo otimismo imagina que eu tenha recebido "dezenas, talvez centenas de mensagens". Ele começa esperando que o meu personagem não cometa suicídio mas, vivendo, pague a dívida contraída de má-fé. A "moral" de sua primeira versão é simples: "foi desonesto, paga sofrendo". Mas a par dessa sentença mensalônica, essa novidade no cenário social brasileiro: a condenação pelo Supremo dos mentores de um esquema de permanência no poder, mesmo quando tramado por altos figurantes intimamente ligados ao partido que nos governa, ele inventa outras soluções. Excluindo a fuga e a esquizofrenia da clandestinidade, Luiz muda o tempo da narrativa e faz o herói virar um pirata. Levado à época das caravelas, ele vive várias aventuras e morre numa batalha sangrenta. Isso para fazer o personagem reviver para contar suas aventuras aos netos "que surgiram não sei bem como". Depois de todos esses finais, segue uma variante final. Com os credores à porta, o herói amplia sua vingança. Processado, ri da Justiça e morre num acesso de tosse.

Madalena Diégues Moreira Alves, minha estimada amiga, revela igualmente uma intensa vocação criativa naquilo que ela chama de uma "versão Pollyana" para o personagem. Entre a vida e a morte, vem-lhe a lembrança de uma caixinha de chocolate em pó que sua mãe guardava ao lado do leite condensado. Resolve misturar leite condensado e chocolate e faz um brigadeiro seguindo a receita que sua mãe lhe passara antes de morrer de um câncer. Em seguida, toma um avião e revisita o médico para, paradoxalmente, lhe oferecer o doce. Lá, ele faz uma dupla descoberta: seu exame fora trocado - ele jamais teve câncer; e a enfermeira, especialista em brigadeiro, percebeu como a receita da mãe do nosso herói era especial. Associam-se nos negócios e na vida e abrem uma loja de chocolates com total sucesso. Com os extraordinários lucros, pagam as dívidas, compram uma fazenda e o formicida é usado para matar, como manda o figurino, "as formigas que cercavam a linda casa da fazenda".

Outro leitor, o Paulo Henrique Nonato escreve a amigos e distingue o cronista incluindo-o na lista. Diz de modo comovente: "Desejei muito que o Lulu ainda estivesse aqui (...) e tivesse aproveitado, da mesma forma (que o personagem), o produto da venda do apartamento assim que recebeu a notícia. Afinal" - termina o Paulo Henrique - "é claro que ele escolheria o doce".

* * * *

Essas reações levam a pensar no "quem conta um conto inventa um ponto". E na história de Machado de Assis Quem Conta Um Conto..." (publicado no Jornal das Famílias, em 1873), cujo título e enredo falam diretamente dessa atividade que nos torna humanos: "o gosto de dar notícias".

Há necessidade de criar pontos de vista, pois as narrativas só viram histórias porque não dizem tudo. Todas são sempre reativadas por receptores que estão em outros lugares e nelas podem enxergar alternativas.

Outro pensamento que me ocorreu foi verificar como os meus leitores abandonaram a realidade da história original. Nela, o personagem vive no presente; ele é um professor universitário e jamais pensaria em fazer um brigadeiro; seu câncer foi real, bem como sua dívida. Eu pedi socorro para o dilema, não para o conto porque, como disse João Guimarães Rosa, a minha história, sendo minha, era verdadeira. A mentira vem da generosidade dos leitores que a modificam a seu gosto. Uma equação matemática não pode ser modificada para ser resolvida. Romancear é fazer equações humanas.

* * * *

Finalmente, vale acrescentar que estamos vivendo num Brasil que faz a virada do acerto dos contos. Tribunais existem precisamente porque vivemos em busca do "direito". Do mais correto, do mais justo, do mais verdadeiro; numa palavra: do melhor enredo ou história. Mas quem define o verdadeiro ou o "real", cuja existência os seus inventores - os filósofos - discordam? Serão as doutrinas religiosas e políticas? Será uma palavra de ordem ou a polícia política? Serão os que estão no poder?

Se o arbitrário é o dilema e se o dilema de estar sempre entre formicida (veneno) e leite condensado (remédio) é parte da nossa condição, então não há como fugir de que o melhor é a versão que leva à liberdade, ao direito de defesa e, a partir dela, à inocência ou à condenação. Como num jogo, estabelecemos regras somente para descobrir como elas fabricam incertezas e novas versões.

O fascismo formicida diz que só há uma voz e uma resposta. O leite condensado liberal assenta-se na presença de muitas vozes e respostas. Uma democracia repousa num contínuo refazer-se. Ninguém pode se arvorar a ser dono da democracia ou do sistema político brasileiro. O passado não isenta o presente e nenhum dos dois garante um futuro.

O que, então, resta ao personagem? Sobra acatar aquilo que a coletividade considera como razoável em termos dos seus valores. O que não é fácil, neste mundo magicamente ilimitado, no qual até mesmo uma crônica corriqueira - para muitos um bom exemplo da minha subliteratura - acende várias soluções...


O GLOBO
ESTADÃO
17/10/2012 

Sem contraindicação - ZUENIR VENTURA

 
Um dos ensinamentos do "Guia para uma vida saudável" que o dr. Cláudio Domênico está lançando esta semana é que em matéria de cuidados com a saúde o ser humano é muito pouco racional: sabe o que lhe faz mal, mas nem sempre sabe como evitar. Há exemplos inclusive entre os médicos: "Pneumologistas que fumam, cardiologistas sedentários ou endocrinologistas obesos." Daí a importância da medicina comportamental, que se interessa pelas motivações, ou seja, pelo que leva uma pessoa a agir dessa ou de outra maneira. O autor conta que nas consultas - "A parte mais nobre de meu trabalho" - ele pergunta até sobre o que parece não ter nada a ver com as queixas do paciente: se gosta de ler, se tem saído com os amigos, qual o seu hobby, como usa o lazer, como gasta o tempo. A alguém que precisa se exercitar, o seu conselho é escolher o exercício que lhe dá mais prazer. "Não importa se andar de bicicleta, jogar tênis, vôlei, dançar ou remar; o fundamental é que a atividade lhe faça feliz." De outro que chega desmotivado, Domênico se informa para ver se há algum indício de depressão. "Na verdade, quero entender mais sobre o seu tesão pela vida." Segundo ele, o caminho para melhorar a qualidade de vida é a mudança de hábitos e de comportamento.

O Guia é o resultado de 30 anos de clínica transmitido como se o leitor fosse um paciente. Tudo em linguagem palatável de quem está mais preocupado com o doente do que com a doença, que aposta no organismo mais do que nos remédios, enfim, quem prefere prevenir do que remediar. O livro mostra como levar uma vida saudável sem morrer de tédio; como perder peso sem perder a alegria; como estabelecer o equilíbrio entre corpo e mente. "Tento transmitir que o grande aprendizado é a busca do equilíbrio", explica Domenico. Excesso faz mal à saúde. Em demasia, até o bem pode fazer mal, como o vinho.
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Os tintos - de uva tannat, merlot e cabernet sauvignon - elevam o colesterol bom, rejuvenescem as artérias, protegem o coração, desde que ingeridos em baixas doses: 150ml para mulheres e 225ml para homens por dia. O perigo é achar que, se uma taça faz bem, uma garrafa fará muito mais. "Moderação é a palavra de ordem." Em resumo: "Te cuida" é uma leitura saudável que não tem contraindicação.

A última de Alice, a rebelde, que ontem fez três anos. O pai lhe diz: "Não adianta, você tem duas opções: 1ª, você veste o uniforme do colégio; 2ª, você veste o uniforme do colégio. Qual das duas você prefere?"

O GLOBO
17/10/2012 

A nova aposentadoria do funcionalismo - CRISTIANO ROMERO

Com a criação da Fundação de Previdência dos Servidores Públicos (Funpresp), para receber benefício equivalente ao do regime anterior, o funcionário público terá que trabalhar por mais tempo e contribuir com alíquota maior que a prevista no sistema de paridade. Por esse sistema, a União contribuirá para a Funpresp, até o limite de 8,5% do vencimento do servidor, com valor idêntico ao da contribuição dos segurados.

Esta é uma das conclusões de um minucioso e inédito estudo feito pelos economistas Marcelo Abi-Ramia Caetano, Felipe Amaral e Fábio Giambiagi, três especialistas em assuntos previdenciários. O trabalho é um subsídio para a definição das normas que vão regular a Funpresp, bem como para orientação dos futuros participantes do fundo.

A criação do fundo é, sem dúvida, a maior contribuição institucional que o governo Dilma Rousseff deu ao país até agora. A partir dela, a aposentadoria integral deixou de existir no Brasil, embora permaneça em vigor para os funcionários contratados antes da instituição da Funpresp. O fundo regulamenta a reforma previdenciária aprovada em 2003 pelo Congresso.

Se contribuição não superar paridade, benefício será menor

Infelizmente, o estatuto e o regulamento do fundo ainda não foram definidos - a lei que cria a Funpresp foi aprovada em abril e o decreto (7.808) da presidente Dilma que o instituiu é de setembro. Para que o fundo comece a funcionar, é necessário ainda fixar algumas regras.

Pelas normas que passaram a vigora a partir de 2003, o funcionário se aposentava com direito a um benefício definido, equivalente à média dos 80% maiores salários de sua carreira, limitado ao último vencimento. Para ter direito ao benefício, o servidor era obrigado a contribuir com 11% do salário bruto. Nesse sistema, a União era obrigada a recolher o dobro da contribuição do funcionário - 22% - e, na hipótese de haver insuficiência de caixa para pagar o benefício prometido, cobri-lo com recursos do Tesouro.

No novo regime, o funcionário terá direito, como o trabalhador do setor privado, à aposentadoria do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), limitada ao teto, que hoje está em R$ 3.916,20. Com a Funpresp, o governo complementará a aposentadoria dos servidores por meio de um sistema de contribuição definida. Isto significa que, em tese, assegurado o pagamento até o teto do INSS, o risco referente ao valor complementar recairá inteiramente sobre o servidor.

É por essa razão que as decisões futuras sobre participação na Funpresp serão cruciais. No regime de contribuição definida, o valor do benefício previdenciário reflete uma série de variáveis. Algumas delas, como o tempo de contribuição, a alíquota incidente sobre a renda e a composição da carteira dos ativos, são discricionárias, portanto, dependem do participante. Outras, como a taxa de retorno do patrimônio, estão fora do seu poder de decisão. Dependerão de como se comportará a economia brasileira nas próximas décadas.

Utilizando modelo econométrico, Caetano, Amaral e Giambiagi traçaram cenários para estimar o benefício futuro de participantes da Funpresp. No cenário básico, o funcionário ingressa no serviço público aos 25 anos, com vencimento inicial de R$ 8 mil, crescimento salarial de 2% ao ano, contribuição de 8,5% para a Funpresp e aposentadoria aos 60 anos. As premissas são de que a taxa real anual de remuneração dos ativos será de 5% ao ano, equivalente a uma carteira composta de 70% de ativos livres de risco, com rentabilidade de 4% ao ano, e 30% de ativos de renda variável, com retorno médio de 7,3% ao ano e desvio-padrão de 25% ao ano.

As premissas não foram tiradas do vácuo. Elas refletem o desempenho da economia brasileira nas últimas décadas, já levando em conta a queda recente da taxa de juros (Selic).

Os números mostram que, nesse cenário, o funcionário receberia aposentadoria líquida mensal (descontado o Imposto de Renda) de R$ 8.233,75. O valor é 11% inferior ao que ele perceberia se estivesse em vigor o regime anterior (R$ 9.254,38). Os autores do estudo advertem que esse resultado deve ser olhado com precaução. A principal razão é que a manutenção da regra anterior, que praticamente assegurava a aposentadoria integral, seria pouco provável nos próximos anos, dado o impacto negativo que ela provoca nas contas públicas.

Caetano, Amaral e Giambiagi traçaram cenários alternativos. Num deles, o salário inicial do participante é R$ 13 mil. Noutro, o servidor decide pagar alíquota de 11%, em vez de 8,5%, sobre a parcela do salário que exceder o teto do INSS. Outra premissa alternativa é o servidor se aposentar aos 65 anos. Numa última alternativa, aplicar-se-iam 50% dos recursos, e não 30%, em ativos de risco (ações).

Considerando essas premissas, o valor da aposentaria pela Funpresp melhora substancialmente, praticamente igualando-se em alguns casos e superando em outros, sempre quando comparado à regra anterior. Para quem entra no regime com salário de R$ 13 mil, o benefício ficaria um pouco abaixo - R$ 13.792,93, face a R$ 14.214,10. Para quem aumentasse a contribuição para 11%, a aposentadoria seria equivalente: de R$ 9.083,25, diante de R$ 9.254,38. Os que se aposentassem mais tarde receberiam benefício mais alto: R$ 10.611,36, face a R$ 9.882,41. O mesmo ocorreria para os que decidissem adotar um portfólio de investimento mais arriscado - R$ 9.515,45, versus R$ 9.254,38.

O estudo chama a atenção para o caso das mulheres, que mesmo na Funpresp terão direito a condições especiais de aposentadoria, uma falha da lei que criou o fundo. Na simulação feita pelos estudiosos, uma funcionária que se aposentar aos 55 anos terá perda de 21% no valor do benefício, se comparado ao que teria direito na regra antiga (R$ 8.737,63).

Na Funpresp, a conta dos casos especiais será paga por todos os participantes. "Pode-se argumentar que a nova previdência é pior para as mulheres comparativamente à situação pretérita. De modo alternativo, mostra que também é verdadeira a constatação da insuficiência da contribuição feminina no regime anterior para fazer jus ao seu benefício. A conta da baixa idade de aposentadoria - antes paga pelos homens, pelas mulheres das gerações futuras ou pelos que não faziam parte do regime próprio da União - recai agora sobre o próprio participante", diz o estudo.


VALOR ECONÔMICO
17/10/2012