Nos últimos dias de janeiro, apaguei, com pesar, o nome e o número de
telefone de amigos e conhecidos que passaram para o outro lado do
espelho. Não foi um ato de morbidez. Fiz isso porque sou distraído, tão
distraído que, certa vez, liguei para um amigo e, quando a mulher dele
atendeu, começou a chorar. E antes de lhe perguntar a razão do choro,
ela me disse: você foi ao enterro dele, não se lembra?
Só então me lembrei daquela triste tarde de junho; pedi desculpa pela
gafe e disse que a memória é um mistério, às vezes as lembranças
aparecem com nitidez, outras vezes ficam guardadas, teimosamente
escondidas, ou em estado de latência.
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