Na cela 3 do DOPS, em Belo Horizonte, onde aos 21 anos me
trancafiaram por um mês, achei que a meu perfil de jovem intelectual
insubmisso faltava um arremate visual. Podia não ter o cachecol e o olho
torto do Sartre, porém o mais estava à mão. Pedi aos amigos que me
arranjassem um cachimbo.
Fui atendido pelo José Márcio Penido, e, durante horas, encostado à
grade (na cela em frente estava o sociólogo Bolívar - então oxítono:
Bolivar - Lamounier), fiz o que pude para manter acesa, já não digo a
flama revolucionária, mas a brasa do cachimbo. A outra, com o tempo,
também arrefeceu, tanto quanto meu pique para desbravar a Introdução
Sistemática ao Estudo da Sociologia, de Harry M. Johnson, que o vizinho
de cana me recomendara. Bem mais adiante, tive uma fase de charuto,
fumegante adereço que definitivamente não combinava com o meu
temperamento bem pouco contemplativo. Repare: a não ser em filme de
gângster, na permanente iminência da chegada dos pneus cantantes da lei,
você não vê ninguém pitando nervosamente um puro, talhado, ao
contrário, para ser saboreado em sossego, de preferência ao pé de uma
lareira e com um cálice de conhaque na outra mão.
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