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Na sua primeira epístola aos Coríntios, Paulo escreveu, pelo menos na minha edição da Bíblia, que a "loucura" de Deus era mais sábia do que a sabedoria de todos os sábios, "loucura" significando o descompromisso da fé com a lógica. Nascia aí a discórdia entre a Igreja e a Ciência que atravessaria os séculos.
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Se Pedro foi o pai da Igreja como entidade mística, Paulo foi o pai da Igreja como entidade política e prática, e desde então as duas tradições competem ou se completam na luta contra o secularismo e a razão científica. É a força mística, a "loucura", da Igreja que a mantém viva até hoje, é a força política que ela mobiliza nas suas batalhas históricas para manter-se relevante. Suas lutas contra heréticos como Galileu eram menos para defender conceitos consagrados como o Universo geocêntrico e mais para preservar poder político ameaçado, o que equivale a dizer que em muitos casos o obscurantismo da Igreja era pragmatismo mal pensado.
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A Inquisição não aconteceu como terror contra agentes do Diabo e descrentes da Fé verdadeira, foi uma prolongada encenação de poder, uma mise-en-scène política com turnê internacional. A origem do terror não foi, portanto, a Igreja do simples e místico Pedro mas a do intelectual e craque em marquetchim Paulo
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O admirável é que a força mística da Igreja de Pedro tenha sobrevivido a todas as derrotas políticas da Igreja de Paulo. Agora mesmo se discute a relevância de uma Igreja que se posiciona contra o uso de preservativos que podem evitar doenças e morte e contra experiências genéticas que podem salvar vidas - em nome de uma sacralização da vida. Dá quase para dizer que a "loucura" de Deus, fora do contexto em que Paulo a usou como sabedoria superior à razão e à lógica, é loucura mesmo.
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Alguns dos novos pecados capitais publicados pelo Vaticano são surpreendentes. Agora é pecado ficar rico demais. O Vaticano só não especificou quanto é demais, talvez incerto sobre a sua própria riqueza. E perderam a oportunidade de transformar em pecado mortal, passível de uma eternidade no inferno, atender celular no cinema.
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As Igrejas de Pedro e de Paulo continuam competindo, como se viu na escolha do novo papa (estou escrevendo antes da fumaça branca) O que será mais temível, uma vitória de Pedro e dos simples em extinção ou uma vitória de Paulo e sua sede de relevância e poder, já que para as duas Igrejas o descompromisso com a lógica das "loucuras" de Deus é o mesmo?
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