Certa
vez participei de uma mesa em torno do lançamento de um livro de meu
amigo Alberto Pucheu. Ele contou que relera alguns de seus livros e
chegara à conclusão de que o núcleo de identidade que os atravessava não
estava tanto nas ideias quanto no modo de escrever, na cadência da
frase, na sintaxe: “Eu sou um ritmo”, ele concluiu. Essa cena me veio à
cabeça porque reli hoje (à procura de uma informação que julgava estar
lá) uma entrevista que concedi há alguns anos. O entrevistador gravou a
conversa, mas, para minha perplexidade (e decepção e indignação), quando
li o resultado final, depois das intervenções dele, não me reconheci no
texto: as ideias estavam adulteradas por paráfrases desajeitadas e meu
ritmo tinha uma cadência tão graciosa quanto a de um desses bailarinos
do Bolshoi quando vão sambar na Mangueira. Diante daquele espelho, me
senti como Cristo se sentiria vendo a restauração de seu retrato feito
pela tal senhora espanhola, que virou hit mundial.
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