domingo, 30 de junho de 2013

Quando a rua fala mais alto do que a Fifa - João Máximo

O Globo - 30/06/2013

Um junho histórico chega
ao fim, um julho imprevisível
lhe sucede.
Imprevisível não
quanto às manifestações que estão
nas ruas, nem quanto aos delinquentes
que tentam manchálas,
muito menos sobre quem vai
ganhar, Brasil ou Espanha. As manifestações
vieram para ficar. Os
delinquentes, que as autoridades
cuidem para que, daqui a um ano,
eles não transformem o Brasil numa
imensa praça de guerra. Por
último, o resultado do jogo não
tem tanta importância para a seleção
brasileira, o futebol, o momento,
o país.

O imprevisível, no caso, referese
a assunto aparentemente menos
grave, mas que tem a ver
com este mês de junho. É que
nos três primeiros dias de julho o
secretário-geral da Fifa, Jérôme
Valcke, vai se reunir com o governo
(leia-se: ministro, dirigentes
esportivos, membros do Comitê
Organizador da Copa do Mundo)
para tratar do que vem sendo
chamado, vagamente, de “passagem
de conhecimento”.

Traduzindo, Valcke vai dizer
onde erramos, onde acertamos,
o que mais temos de fazer para
atender às múltiplas exigências
da entidade que ele representa.
Para quem não sabe ou não se
lembra, o secretário-geral é
aquele francês que nos ameaçou
com um pontapé no traseiro e
que, em claro tom de deboche,
espalhou pelo mundo que nossas
coisas são organizadas em
ritmo de samba. Pelo jeito respeitoso
e serviçal com que o recebemos,
pelas homenagens
que lhe prestamos, até parece
que concordamos.

O resultado de
Brasil x Espanha não
tem tanta importância
para a seleção
brasileira, o futebol,
o momento, o país

As manifestações das ruas, evidentemente,
não são contra
Valcke, a Copa do Mundo no Brasil,
o futebol, e sim contra não se
gastarem em Saúde, Educação,
Transporte os bilhões investidos
para atender ao que a Fifa nos exigiu.
Também não são (mas poderiam
ser) em protesto contra o
quanto nos rebaixamos para que
Valcke e seu presidente Joseph
Blatter nos concedessem a graça
de seu assentimento. Porque os
homens são mesmo severos. Mudando
nossas leis, transformando
nossos estádios em arenas, proibindo
o que bem entendem, tentando
ensinar nossa gente a torcer
e até querendo alterar nosso
Hino, ganham tantos bilhões
quanto os superfaturados por
aqueles que vão se reunir com
Valcke nos três primeiros dias de
julho, naturalmente, ansiosos para
que o francês lhes dê nota alta
em comportamento. O imprevisível?
Está em sua entrevista ao
GLOBO, na qual diz: “Precisamos
resgatar a imagem positiva da Copa,
levar o sucesso que conseguimos
dentro do estádio para fora
dele.” Será que o homem está se
referindo aos delinquentes ou —
como tudo pode — às manifestações?

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