sexta-feira, 7 de março de 2014

Brasil em série‏ - Ana Clara Brant

Brasil em série

Legislação que obriga a exibição de três horas e meia de produção brasileira nas emissoras de TV paga aquece o mercado das produtoras independentes

Ana Clara Brant
Estado de Minas: 07/03/2014

 
O ator Emílio de Mello estrela Psi, seriado que mescla policial e psicanálise, escrito por Contardo Calligaris       (HBO/Divulgação)
O ator Emílio de Mello estrela Psi, seriado que mescla policial e psicanálise, escrito por Contardo Calligaris


Mais divã na telinha. Depois de Sessão de terapia, que já anunciou a terceira temporada pelo GNT, a nova série brasileira Psi, do canal de TV a cabo HBO, tem estreia programada para o dia 23. A atração, que tem no elenco os atores Emílio de Mello e Claudia Ohana, terá em sua primeira temporada 13 episódios e é escrita por Contardo Calligaris. Enquanto isso, as gravações de A segunda vez, seriado da Conspiração Filmes protagonizado por Marcos Palmeira e que será exibida no Multishow a partir de junho, estão a todo vapor. A produção cada vez maior de conteúdo brasileiro audiovisual é reflexo da Lei 12.485, que obriga canais da TV paga a exibir pelo menos três horas e meia diárias de conteúdo nacional.

O diretor-executivo da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão, Mauro Garcia, não tem dúvidas de que o mercado ficou aquecido com a cota, mas ressalta que já havia uma tendência de se produzir conteúdo nacional na TV a cabo. E por uma boa razão: o número de assinantes triplicou, passando de 6 milhões para 18 milhões nos últimos três anos. “Esses números incluem os das classes C e D, e essa nova base trouxe consigo seus hábitos, ou seja, o de assistir à TV aberta, portanto, conteúdo nacional”, explica. Por isso, Garcia acredita que, independentemente da lei das cotas, a TV paga já estaria atenta aos novos consumidores. “Sem falar que estamos vivemos o melhor momento do cinema brasileiro. Todos esses fatores ajudam a fortalecer o interesse de um público novo para as produções nacionais, seja para a telona ou telinha”, analisa.

De acordo com Mauro Garcia, se a tendência de apostar na produção independente se concentrava em canais como o GNT, o Multishow e o Canal Brasil, hoje atinge uma espectro bem mais abrangente. Entre as emissoras que estão anunciando séries produzidas no Brasil estão inclusive as grandes empresas estrangeiras do setor, como a HBO, a Fox, a Warner e a MGM, além das infantis Cartoon e Disney Channel.

Para o diretor-executivo de TV da Conspiração, Zico Góes, há uma explosão da demanda. Ele afirma que o brasileiro sempre se interessou por séries, independentemente do meio no qual ela é exibida. É claro que depois da obrigação legal de cumprimento de cotas pelas emissoras de TV paga a produção independente ganhou impulso. “Quando a lei passou a ser aplicada, os canais tiveram que correr atrás, porque não estavam preparados. Tem canais que prezam pela qualidade, enquanto outros só querem cumprir a cota”, diz. Zico acrescenta que existem produtoras mais ou menos aparelhadas, sendo que as grandes, que estão numa toada de produção há mais tempo e com posição firme no mercado, têm mais demanda. “Mas há espaço para todas. No nosso caso, estamos produzindo atualmente 30 programas diferentes para os mais variados tipos de canais”, contabiliza.

O diretor conta que não existe receita para se criar um seriado. Muitas vezes parte do canal, outras vezes a ideia surge da produtora e há casos em que o projeto é desenvolvido em conjunto. “No caso do Vai que cola, por exemplo, que estreia nova temporada no segundo semestre, o Multishow nos encomendou um seriado diário que tivesse uma solução cenográfica diferente e uma marca forte de comédia urbana. E aí criamos todos os personagens e a história em cima disso”, conta.

Alguns produtores fora do eixo Rio-São Paulo se queixam da centralização das ações. Júlia Nogueira, da Camisa Listrada, de Belo Horizonte, sente essa desvalorização, mas espera que aos poucos o panorama mude. O diretor da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão reconhece que há de fato concentração de empresas nas duas maiores cidades do país, até porque as principais emissoras ficam no Rio e em São Paulo, mas que há um esforço da própria associação de levar executivos dos canais e promover rodadas de negócios em outros estados. “Há um movimento de valorização de outras praças, de incentivar linhas de financiamento que estimulem as produções fora do Rio e de São Paulo. No ano passado, promovemos muitos encontros regionais e vamos focar mais ainda nisso em 2014”, assegura Mauro Garcia.

Mercado e tendências


Entre os dias 12 e 14 será realizado o principal evento da América Latina voltado para a produção de conteúdo multiplataforma, promovido pela Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão. O Rio Content Market, que está em sua quarta edição, tem foco na indústria de televisão e mídias digitais, e apresenta tendências em produção audiovisual. “Ele é o clímax de tudo isso que estamos vivendo e é um esforço de intensificar e consolidar o mercado audiovisual brasileiro. É uma rodada de negócios. Além de levar produtos brasileiros para o mercado externo, tínhamos a necessidade de trazer produtores de fora para capacitar o pessoal daqui, trazer nomes consagrados como os criadores do Game of thrones”, destaca o diretor-executivo da associação, Mauro Garcia.

Para o diretor- executivo de TV da Conspiração, Zico Góes, a grande importância do Rio Content é o contato, já que esse mercado é baseado no relacionamento. “Tem-se que conhecer as pessoas, as produtoras, emissoras, criadores, inclusive de fora. Criar uma energia de troca de ideias”, destaca. Já Júlia Nogueira, coordenadora de TV e documentários da produtora mineira Camisa Listrada, vê o evento como fundamental, mas não como a solução de todos os problemas. “Esse é o segundo Rio Content Market de que participamos. Não deixa de ser uma boa porta de entrada, mas ninguém fecha um contrato de cara aqui”, ressalta.

Vem aí

» A segunda vez (Conspiração filmes) – Estrelada por Marcos Palmeira e inspirada no livro de Marcelo Rubens Paiva, a série trata do envolvimento do personagem vivido pelo ator com uma rede de prostituição. Em junho, no Multishow

» Assunto de família (Morena Filmes) – Pedro, vivido por Eduardo Moscovis, é um juiz da Vara de Família que, além de julgar, acaba investigando os casos por conta própria. Bem-sucedido na profissão, ele não tem a mesma estabilidade na vida pessoal. Em abril, no GNT

» Expedições de Burle Marx (Camisa Listrada) – As viagens feitas pelo paisagista Roberto Burle Marx com o intuito de conhecer o hábitat das espécies que utilizaria em seus jardins. Em abril, na TV Brasil

» Irmãos do Jorel (Copa Studios) – Nome internacional de Jorel’s brother, série de desenho animado criada pelo brasileiro Juliano Enrico. Primeira animação do Cartoon Network feita no Brasil e na América Latina. No primeiro semestre, no Cartoon Netwoork

» Psi (Damasco Filmes) – Série que acompanha a rotina de um psiquiatra e psicólogo aventureiro interpretado por Emílio de Mello. Em março, na HBO

» Sete minutos (O2 filmes) – História de um grupo de amigos da faixa de 40 e muitos anos, que não são criminosos, mas planejam conseguir dinheiro rapidamente num único assalto a banco. Em julho, na Fox

Outras estreias

» Animal (Globosat), no primeiro semestre, no GNT

» Tronquinho e o pão de queijo (Gava produções), no primeiro semestre, no Gloob

» Surtadas na yoga (Conspiração Filmes), segunda temporada em abril, no GNT

» Vai que cola (Conspiração Filmes), segunda temporada, no segundo semestre, no Multishow

Nenhum comentário:

Postar um comentário