sexta-feira, 7 de março de 2014

Eduardo Almeida Reis - Notas camelídeas‏

Notas camelídeas

O problema envolvia matemática e camelos, assuntos nos quais não me imiscuo



Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 07/03/2014 

Ruth e Fernando Henrique Cardoso, o senhor e a senhora Jorge Paulo Lemann (ele tem 22 bilhões de dólares), são dois casais que não podem ser acusados de camelice, qualidade, ato ou comportamento de pessoa sem inteligência ou bom senso; burrice, estupidez, idiotice.

No entanto, em 2006, quando FHC já tinha deixado a presidência da República, os dois casais fizeram camelice para ninguém botar defeito: enfrentaram, montados em imensos camelos, um passeio pelo Deserto de Gobi. Como sabe o leitor depois de consultar a Wikipédia, o Deserto de Gobi é um extenso areal situado na região norte da República Popular da China e região sul da Mongólia. A palavra gobi, em mongol, significa deserto, informação que carece de fonte.

Gobi tem 1.600km de leste a oeste e 800 km de sul a norte, regulando em área com o estado brasileiro do Pará. Em valores extremos, as temperaturas no deserto oscilam de 33,9ºC durante o dia a -47ºC durante a noite. É o lar de animais incomuns como o camelo-bactriano e do raríssimo cavalo-de-przewalski.

O Equus przewalskii é uma espécie de equídeo nativa da Mongólia, que se encontrava extinta na natureza e foi reintroduzida no seu hábitat graças a um projeto internacional. Espécie descrita pela primeira vez em 1881 pelo general e naturalista amador russo Nikolaï Mikhaïlovitch Prjevalski, que viajou à sua procura depois de ouvir relatos de sua existência. O último cavalo selvagem foi avistado em 1969, mas o projeto internacional, recorrendo a exemplares da raça existentes nos zoos, conseguiu reintroduzir a espécie.

Não conheço o casal Lemann, que não deve ser criança: Jorge Paulo nasceu em agosto de 1939. Fernando Henrique, em 2006, orçava pelos 76 aninhos e dona Ruth Vilaça Correia Leite Cardoso regulava com ele, daí o meu espanto: fazer turismo, tudo bem, mas conhecer o Deserto de Gobi montando camelos-bactrianos (de duas corcovas) com mais de 70 anos é, salvo melhor juízo, um exagero dos mais exagerados.


Matemática
O suelto que acaba de encantar o pacientíssimo leitor era para ser um simples nariz de cera, mas se espichou até alcançar 328 palavras, quando minha intenção era falar de um texto que circula na internet, que recebi e repassei sem ler, porque não manjo de matemática e não gosto de camelos. Até de Bangcoc, na Tailândia, fui criticado por leitor amigo, dizendo que o texto não é de um livro do Rajneesh (1931-1990), um picareta indiano que andou empulhando os bobos, mas do livro O homem que calculava, de Malba Tahan, pseudônimo do professor Júlio César de Melo e Sousa (1895-1974), um dos maiores divulgadores da matemática no Brasil.

O problema internético falava de um homem que morreu deixando três filhos e 17 camelos. Em seu testamento, estabelecera que a metade dos camelos ficaria para o primogênito, um terço para o segundo e um nono para o caçulo.

A partir daí, o problema envolvia matemática e camelos, assuntos nos quais não me imiscuo. Muito bom esse verbo pronominal imiscuir-se, né? Parece que entrou em nosso idioma no século passado. Imiscuamo-nos, caros e preclaros leitores, em todos os assuntos que não envolvam gramática, matemática e camelos. Pela atenção, muitíssimo obrigado.


Autorização da Justiça
Entre 1853 e 1856, na península da Crimeia, Mar Negro, ao sul da atual Ucrânia, o império russo envolveu-se na chamada Guerra da Crimeia contra o Reino Unido, a França e o Reino da Sardenha, coalizão que contou com o apoio do Império Austríaco.

Naquele tempo, inexistiam os telefones celulares, mas cabe a pergunta: se existissem, teria cabimento pedir autorização à Justiça para gravar os telefonemas das hostes? Hoste vem do latim hostisis, que significa inimigo, adversário, como também “força armada, exército, tropa, bando, multidão etc.”. Daí o fato de o philosopho não especificar “hostes inimigas”, considerando que as hostes podem ser de nosso próprio exército.

O resumo da ópera é o seguinte: vivemos neste 2014 em guerra contra o crime organizado, daí o exagero de pedir autorização judicial para ouvir e gravar os telefonemas dos criminosos.


O mundo é uma bola
7 de março de 321: Constantino I, imperador romano, decreta o Dies Solis (dia do Sol), domingo, como dia de descanso no Império. Mais recentemente, inventaram o sábado e devem atingir a perfeição no dia em que decretarem um dia da semana como dia de trabalhar, porque o pessoal gosta mesmo é de rede, cachaça e corrupção.

Em 1553, Luiz Vaz de Camões recebe carta de perdão, depois de andar preso por trocar espadadas com um certo Gonçalo Borges no dia 16 de junho de 1552.

Em 1557, chega à Baía da Guanabara um grupo de huguenotes liderados pelo católico Nicolas Durand de Villegagnon.

Em 1808, chega ao Rio de Janeiro a Família Real portuguesa. No mesmo dia, o príncipe-regente, futuro dom João VI, libera a instalação de estabelecimentos industriais em qualquer lugar do Brasil.

Em 1876, Alexander Graham Bell patenteia a invenção que chama de telefone.

Em 570, nasceu Childeberto II, rei merovíngio da Austrásia, que morreria, coitado, no ano de 595.

Hoje é o Dia do Fuzileiro Naval.


Ruminanças

“O homem não é feito para meditar, mas para agir” (Rousseau, 1712-1778).

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