domingo, 9 de março de 2014

Tereza Cruvinel -Filme em reprise‏

Tereza Cruvinel

A história do PMDB sugere que não há mais reza que garanta o apoio unitário do partido a Dilma, como o que ela excepcionalmente obteve do partido em 2010

Estado de Minas: 09/03/2014
 
Filme em reprise

Hoje tem pajelança no Alvorada, onde a presidente Dilma Rousseff (PT) recebe os cardeais do PMDB para dizer-lhes um “toma que o filho é seu”. Em outras palavras, para continuar juntos, precisam dar um jeito nos rebeldes liderados por Eduardo Cunha (RJ). Governo é governo, oposição é oposição. Sexto ministério não haverá: o partido não cresceu nem nada ocorreu para justificar tal ampliação de espaço, dizem os petistas. Dilma não está em descompasso com Lula na decisão de pagar para ver. Os dois acham, com razão, que o alto-comando não vai desertar da candidatura Dilma, com tudo que isso significa, da vaga de vice aos grandes nacos conquistados. Mas a história do PMDB também sugere que não há mais reza que garanta apoio unitário, como o que excepcionalmente houve a Dilma em 2010.
O filme é velho e vale a pena recordá-lo, pois tudo indica uma nova exibição. Em 1989, depois de ter liderado a travessia para o regime democrático, o PMDB traiu vergonhosamente aquele que o conduziu.
 
 Aprovou a candidatura presidencial de Ulysses Guimarães, mas “cristianizou-o”. Os mais importantes governadores fizeram corpo mole ou o traíram abertamente, de Orestes Quércia (SP) a Miguel Arraes (PE). Ulysses amargou um humilhante e imerecido quinto lugar. Em 1994, Quércia se impôs como candidato, mas acabou em quarto lugar. O partido não marchou unido com ele. Em 1998, o racha interno produziu situações bizarras, com escaramuças entre claques e brigas na Justiça para anular a convenção que aprovara o apoio à reeleição de Fernando Henrique, contra a candidatura própria de Itamar Franco. Tanto brigaram que o partido não decidiu por uma coisa nem por outra e cada qual fez o que quis. O grupo que apoiou FH acabou mantendo os dois ministérios que recebera no primeiro mandato. Em 2002, após novas brigas internas e na Justiça, capitaneadas por Itamar, Paes de Andrade, Pedro Simon e Roberto Requião — que queria ser candidato —, o cardinalato governista aprovou o apoio a José Serra e a indicação de Rita Camata como vice. Serra levou o tempo de TV e Lula o apoio dos caciques mais importantes. Na formação do ministério, entretanto, vetou o acordo que José Dirceu costurava para garantir o apoio parlamentar do PMDB. Errou: só depois da crise do mensalão cortejou o partido e o levou para o governo. Isso não impediu que a brigalhada voltasse em 2006, agora com o barulho ampliado pela postulação de Garotinho. No fim, o partido apoiou a reeleição de Lula, que costurou o apoio a Dilma em 2010. Foi a única vez que o PMDB pós-ditadura tomou uma decisão pacífica sobre a disputa presidencial.

No ponto a que as coisas chegaram, não há muito o que fazer. A rebeldia da bancada da Câmara tem a ver com gula e com as disputas eleitorais nos estados. Requião já se oferece como candidato próprio e os rebeldes coletam assinaturas (teriam o apoio da maioria dos diretórios) para realizar uma pré-convenção em abril, que decidiria sobre a manutenção da aliança no plano nacional. Ainda que não consigam realizá-la, haverá barulho na convenção oficial, que precisa ser realizada até o fim de junho, para oficializar a coligação e a indicação de Michel Temer como candidato a vice. Alguém acredita que será uma decisão pacífica? Nem eu. O apoio oficial a Dilma deve ser formalizado. Afinal, Sarney, Renan e o próprio Michel devem ter votos para tanto, garantindo à presidente o precioso tempo de TV do partido. Nos estados, cada qual fará seu jogo e salve-se quem puder.

Por que as coisas desandaram? Dilma e o PT cometeram erros formais no relacionamento, com manifestações de desapreço e arrogância. Honraram, entretanto, os compromissos fundamentais, como a entrega das presidências das duas Casas do Congresso, cinco ministérios e uma penca de estatais. Os menos contemplados ruminaram o tempo todo e acabaram encontrando em Cunha um porta-voz. Os apetites eleitorais nos estados fizeram o resto, embora haja no PT quem considere um erro comprometer a sustentação no Congresso por conta de disputas regionais. Pois, se Dilma conseguir a reeleição, novamente precisará do PMDB para governar. Ela ou qualquer um.

Aliás, vendo o circo pegar fogo, Eduardo Campos (PSB) deu uma piscadinha para o PMDB. Para mostrar que está no jogo, pois, no duro, sabe que, diante de tal aliança, Marina Silva pediria o divórcio.

Mulheres: avanços e atrasos
O Dia Internacional da Mulher foi ontem, mas ainda vale recordar o que temos para celebrar e o que falta conquistar. A roda girou muito a nosso favor nas décadas e anos recentes, mas a liberdade individual não suprimiu ainda a odiosa violência de gênero, embora tenhamos hoje uma política de Estado muito efetiva nesse campo, baseada no Disque 180, na aplicação da Lei Maria da Penha e nos abrigos para recolher as vítimas até que elas possam reorganizar suas vidas.
Segundo o Relatório Global sobre Desigualdade de Gênero, recentemente divulgado pelo Fórum Econômico Mundial (Davos), entre 136 países analisados em 2013, o Brasil ficou na posição 62 entre os mais desiguais, a mesmo do ano anterior — embora no quesito acesso à saúde e à educação tenha compartilhado o primeiro lugar com um grupo seleto de países. Já no capítulo da igualdade econômica, despencou para a posição 120 por conta dos salários inferiores aos dos homens e da menor participação no mercado de trabalho: 64% contra 85% dos homens.

Não menos vergonhoso é o perfil deste país governado por uma mulher no quesito poder político, que lhe valeu a 116ª posição. As brasileiras ocupam 10% das cadeiras do Senado e pouco mais de 8% das da Câmara.

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