sexta-feira, 7 de março de 2014

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 07/03/2014 

 

 (Paramount Pictures/Divulgação)

PILOTO POLÊMICO


Filme que garantiu, em 2013, uma indicação ao Oscar a Denzel Washington, O voo, de Robert Zemeckis, será exibido às 23h55 no Telecine Premium. O ator vive um piloto de avião que consegue salvar quase todos os seus passageiros de um acidente, mas uma investigação aprofundada revela algo errado com a história.

MARATONA DE CORRA
QUE A POLÍCIA VEM AÍ


Comédia besteirol que se tornou um clássico nos anos 1980, Corra que a polícia vem aí ganha maratona no TBS, a partir das 21h30. Nesse horário será exibido o primeiro filme da série, de 1988, com elenco formado por Leslie Nielsen, Priscilla Presley, Ricardo Montalban e até O. J. Simpson. Na sequência, irão ao ar os filmes de 1991 (às 23h, Corra que a polícia vem aí 2 1/2) e de 1994 (à 0h25, Corra que a polícia vem aí 33 1/3 – O insulto final).

ZÉ DO CAIXÃO E XICO SÁ
BATEM PAPO NA TELINHA


No ar à 0h10, no Canal Brasil, o programa O estranho mundo de Zé do Caixão exibe entrevista de José Mojica com o jornalista e escritor Xico Sá. Ele dá sua opinião com relação à organização da Copa do Mundo, fala do lado positivo das marias-chuteiras e revela seu lado místico e superstições.

REPRISE DE DOWNTON
ABBEY NO CANAL GNT


O GNT começa a reprisar hoje, a partir das 16h, o terceiro ano de Downton Abbey. Serão dois episódios em sequência. No primeiro, Sybil retorna a Downton para o casamento de Mary e a sua chegada deixa o clima tenso na mansão. Os Crawley, porém, têm outra preocupação, pois uma notícia grave ameaça arruinar a família e a felicidade da ocasião.

DOBRADINHA DE AÇÃO
HOJE NA SESSÃO DUPLEX


Durante este mês, a Sessão duplex do FX, sempre às sextas, às 18h45, vai exibir dois filmes seguidos de um mesmo tema. O de hoje será “Dos games para as telas”, com os filmes Max Payne (com Mark Wahlberg e Mila Kunis) e Hitman – Assassino 47 (com Timothy Olyphant).

DIDI WAGER DÁ DICAS
DE TURISMO EM PARIS


Didi Wagner comanda o programa Lugar incomum, às 17h, no Multishow. No primeiro episódio da temporada em Paris, a apresentadora tira a dúvida de 10 entre 10 brasileiros que chegam à cidade: é possível falar inglês e não ser maltratado pelos franceses. Além disso, ela visita a Torre Eiffel, mostra a melhor baguete da cidade e como fugir dos clichês ao fazer fotos nos cartões-postais mais conhecidos do planeta. Em um carro sem capota, Didi passeia com Stéphan Rizon, o vencedor do primeiro The voice da França.


CARAS & BOCAS » Triângulo esquenta


Simone Castro



Cadu (Reynaldo Gianecchini) se dá conta de que há algo estranho em seu casamento (Alex Carvalho/TV Globo-5/2/14)
Cadu (Reynaldo Gianecchini) se dá conta de que há algo estranho em seu casamento
 
Candidato a chef, Cadu (Reynaldo Gianecchini), marido de Clara (Giovanna Antonelli), pode até ser desligado, mas não é bobo. Nos próximos capítulos de Em família (Globo), ele vai perceber que há algo estranho na amizade entre sua mulher e Marina (Tainá Müller) e armará a maior confusão. Tudo começa na festa de luxo que a fotógrafa prepara para Clara. A ricaça não economiza nos mimos para a amada, espalha fotos gigantes de Clara pela casa de festa em evento com direito a fogos, bolo gigante e até show de circo. Cadu se surpreende com tudo, percebe um clima no ar e tira satisfações com sua mulher. Durante a festa, ele fica o tempo todo sozinho. Quando se aproxima dela eles brigam. Clara diz pra ele ir embora, que vai pedir para alguém levá-la em casa. “Levar pra quê? Dorme aqui. Tenho certeza de que tem um bom lugar pra você”, grita ele. Quando eles chegam em casa, a briga cresce porque Clara não para de falar em Marina. Cadu explode: “Chega, Clara! Você, você, você! A Marina, a Marina, a Marina! E eu? Qual é o meu lugar nisso tudo, afinal? Qual é a dessa mulher? E qual é a sua, Clara?”. A dona de casa fica sem palavras.

SBT SAI EM DEFESA DE
SUA APRESENTADORA


A assessoria de comunicação do SBT divulgou nota de esclarecimento em que diz que a jornalista e apresentadora Rachel Sheherazade “não utilizou redes sociais para convocar atos ou marchas de qualquer natureza. São perfis falsos que usam o nome da apresentadora de forma ilegal. Rachel divulga no Facebook apenas os vídeos com suas opiniões no SBT Brasil e nada mais.” O comunicado termina com a assessoria se prontificando à checagem da veracidade de informações atribuídas a Sheherazade.

PROPAGANDA GANHA
AS RUAS DE SÃO PAULO


Em mais uma ação de divulgação do programa The noite, que estreia segunda-feira, à meia-noite, no SBT/Alterosa, caminhões de mudança, totalmente “envelopados” com comunicação especial da atração, ganham as ruas de São Paulo. E, claro, despertam a curiosidade do público. A ideia é reforçar que o apresentador Danilo Gentili agora está de “casa” nova. A propaganda está totalmente alinhada ao conceito dos vídeos que Danilo tem promovido na internet e nos canais da emissora.

CONCEITO SUSTENTÁVEL
DÁ O TOM DO PROGRAMA


A TV Brasil estreia amanhã, às 20h30, série sobre arquitetura sustentável batizada de Ecópia – Construção inteligente. Vida sustentável. Trata-se de série alemã de seis episódios, que traz construções com o conceito ao redor do mundo. O primeiro episódio, intitulado “Mundos urbanos”, destaca dois modelos de planejamento urbano sustentável: o projeto HafenCity, em Hamburgo, no Norte da Alemanha, e a cidade ecológica de Tianjin, no Leste da China. Em HafenCity, surgem 10 novos bairros naquele que é atualmente considerado o maior canteiro de obras da Europa. Na antiga zona portuária à beira do Rio Elba está sendo criado novo centro urbano. Já a ecológica Tianjin se eleva sobre uma área verde. A cidade-satélite deverá servir principalmente de campo de testes para tecnologias mais amigáveis ao meio ambiente, que poderão reduzir drasticamente o consumo energético nas cidades chinesas.

 (Reuters/Courtesy HBO-15/3/12)

GOL DE PLACA


Louco pela nova temporada de Game of thrones? Pois vai aí mais um lance do que os fãs podem esperar. No entanto, apenas os nova-iorquinos, cerca de 7 mil, terão o privilégio de assistir ao primeiro episódio da quarta temporada em um estádio. Isso mesmo: a data é 20 de março e um telão será armado no estádio coberto Barclays Center, no Bairro do Brooklyn, segundo promoção da rede de TV HBO. Toda a renda arrecadada durante a noite – o ingresso custará US$ 15 (cerca de R$ 35) – será revertida em obras de caridade. A nova temporada entrará no ar em 6 de abril. No Brasil, a série é exibida na HBO (TV paga). A trama, baseada na obra do escritor norte-americano George R. R. Martin, retrata, de forma épica e cheia de efeitos especiais, a luta pelo poder no continente fictício de Westeros. No elenco, entre outros, Peter Dinklges, que interpreta o carismático Tyrion Lannister (foto).

VIVA
Mais uma vez, com Manfred (Carmo Dalla Vecchia, ótimo) dando as cartas e criando novas armações, Joia rara (Globo) renova o fôlego.

VAIA
O Agora é tarde, na Band, com novo apresentador, Rafinha Bastos, que estreou anteontem, foi mais do mesmo. E Rafinha nem parece ele...

Brasil em série‏ - Ana Clara Brant

Brasil em série

Legislação que obriga a exibição de três horas e meia de produção brasileira nas emissoras de TV paga aquece o mercado das produtoras independentes

Ana Clara Brant
Estado de Minas: 07/03/2014

 
O ator Emílio de Mello estrela Psi, seriado que mescla policial e psicanálise, escrito por Contardo Calligaris       (HBO/Divulgação)
O ator Emílio de Mello estrela Psi, seriado que mescla policial e psicanálise, escrito por Contardo Calligaris


Mais divã na telinha. Depois de Sessão de terapia, que já anunciou a terceira temporada pelo GNT, a nova série brasileira Psi, do canal de TV a cabo HBO, tem estreia programada para o dia 23. A atração, que tem no elenco os atores Emílio de Mello e Claudia Ohana, terá em sua primeira temporada 13 episódios e é escrita por Contardo Calligaris. Enquanto isso, as gravações de A segunda vez, seriado da Conspiração Filmes protagonizado por Marcos Palmeira e que será exibida no Multishow a partir de junho, estão a todo vapor. A produção cada vez maior de conteúdo brasileiro audiovisual é reflexo da Lei 12.485, que obriga canais da TV paga a exibir pelo menos três horas e meia diárias de conteúdo nacional.

O diretor-executivo da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão, Mauro Garcia, não tem dúvidas de que o mercado ficou aquecido com a cota, mas ressalta que já havia uma tendência de se produzir conteúdo nacional na TV a cabo. E por uma boa razão: o número de assinantes triplicou, passando de 6 milhões para 18 milhões nos últimos três anos. “Esses números incluem os das classes C e D, e essa nova base trouxe consigo seus hábitos, ou seja, o de assistir à TV aberta, portanto, conteúdo nacional”, explica. Por isso, Garcia acredita que, independentemente da lei das cotas, a TV paga já estaria atenta aos novos consumidores. “Sem falar que estamos vivemos o melhor momento do cinema brasileiro. Todos esses fatores ajudam a fortalecer o interesse de um público novo para as produções nacionais, seja para a telona ou telinha”, analisa.

De acordo com Mauro Garcia, se a tendência de apostar na produção independente se concentrava em canais como o GNT, o Multishow e o Canal Brasil, hoje atinge uma espectro bem mais abrangente. Entre as emissoras que estão anunciando séries produzidas no Brasil estão inclusive as grandes empresas estrangeiras do setor, como a HBO, a Fox, a Warner e a MGM, além das infantis Cartoon e Disney Channel.

Para o diretor-executivo de TV da Conspiração, Zico Góes, há uma explosão da demanda. Ele afirma que o brasileiro sempre se interessou por séries, independentemente do meio no qual ela é exibida. É claro que depois da obrigação legal de cumprimento de cotas pelas emissoras de TV paga a produção independente ganhou impulso. “Quando a lei passou a ser aplicada, os canais tiveram que correr atrás, porque não estavam preparados. Tem canais que prezam pela qualidade, enquanto outros só querem cumprir a cota”, diz. Zico acrescenta que existem produtoras mais ou menos aparelhadas, sendo que as grandes, que estão numa toada de produção há mais tempo e com posição firme no mercado, têm mais demanda. “Mas há espaço para todas. No nosso caso, estamos produzindo atualmente 30 programas diferentes para os mais variados tipos de canais”, contabiliza.

O diretor conta que não existe receita para se criar um seriado. Muitas vezes parte do canal, outras vezes a ideia surge da produtora e há casos em que o projeto é desenvolvido em conjunto. “No caso do Vai que cola, por exemplo, que estreia nova temporada no segundo semestre, o Multishow nos encomendou um seriado diário que tivesse uma solução cenográfica diferente e uma marca forte de comédia urbana. E aí criamos todos os personagens e a história em cima disso”, conta.

Alguns produtores fora do eixo Rio-São Paulo se queixam da centralização das ações. Júlia Nogueira, da Camisa Listrada, de Belo Horizonte, sente essa desvalorização, mas espera que aos poucos o panorama mude. O diretor da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão reconhece que há de fato concentração de empresas nas duas maiores cidades do país, até porque as principais emissoras ficam no Rio e em São Paulo, mas que há um esforço da própria associação de levar executivos dos canais e promover rodadas de negócios em outros estados. “Há um movimento de valorização de outras praças, de incentivar linhas de financiamento que estimulem as produções fora do Rio e de São Paulo. No ano passado, promovemos muitos encontros regionais e vamos focar mais ainda nisso em 2014”, assegura Mauro Garcia.

Mercado e tendências


Entre os dias 12 e 14 será realizado o principal evento da América Latina voltado para a produção de conteúdo multiplataforma, promovido pela Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão. O Rio Content Market, que está em sua quarta edição, tem foco na indústria de televisão e mídias digitais, e apresenta tendências em produção audiovisual. “Ele é o clímax de tudo isso que estamos vivendo e é um esforço de intensificar e consolidar o mercado audiovisual brasileiro. É uma rodada de negócios. Além de levar produtos brasileiros para o mercado externo, tínhamos a necessidade de trazer produtores de fora para capacitar o pessoal daqui, trazer nomes consagrados como os criadores do Game of thrones”, destaca o diretor-executivo da associação, Mauro Garcia.

Para o diretor- executivo de TV da Conspiração, Zico Góes, a grande importância do Rio Content é o contato, já que esse mercado é baseado no relacionamento. “Tem-se que conhecer as pessoas, as produtoras, emissoras, criadores, inclusive de fora. Criar uma energia de troca de ideias”, destaca. Já Júlia Nogueira, coordenadora de TV e documentários da produtora mineira Camisa Listrada, vê o evento como fundamental, mas não como a solução de todos os problemas. “Esse é o segundo Rio Content Market de que participamos. Não deixa de ser uma boa porta de entrada, mas ninguém fecha um contrato de cara aqui”, ressalta.

Vem aí

» A segunda vez (Conspiração filmes) – Estrelada por Marcos Palmeira e inspirada no livro de Marcelo Rubens Paiva, a série trata do envolvimento do personagem vivido pelo ator com uma rede de prostituição. Em junho, no Multishow

» Assunto de família (Morena Filmes) – Pedro, vivido por Eduardo Moscovis, é um juiz da Vara de Família que, além de julgar, acaba investigando os casos por conta própria. Bem-sucedido na profissão, ele não tem a mesma estabilidade na vida pessoal. Em abril, no GNT

» Expedições de Burle Marx (Camisa Listrada) – As viagens feitas pelo paisagista Roberto Burle Marx com o intuito de conhecer o hábitat das espécies que utilizaria em seus jardins. Em abril, na TV Brasil

» Irmãos do Jorel (Copa Studios) – Nome internacional de Jorel’s brother, série de desenho animado criada pelo brasileiro Juliano Enrico. Primeira animação do Cartoon Network feita no Brasil e na América Latina. No primeiro semestre, no Cartoon Netwoork

» Psi (Damasco Filmes) – Série que acompanha a rotina de um psiquiatra e psicólogo aventureiro interpretado por Emílio de Mello. Em março, na HBO

» Sete minutos (O2 filmes) – História de um grupo de amigos da faixa de 40 e muitos anos, que não são criminosos, mas planejam conseguir dinheiro rapidamente num único assalto a banco. Em julho, na Fox

Outras estreias

» Animal (Globosat), no primeiro semestre, no GNT

» Tronquinho e o pão de queijo (Gava produções), no primeiro semestre, no Gloob

» Surtadas na yoga (Conspiração Filmes), segunda temporada em abril, no GNT

» Vai que cola (Conspiração Filmes), segunda temporada, no segundo semestre, no Multishow

A solidão que abala o corpo‏ - Isabela de Oliveira

A solidão que abala o corpo

Idosos que se mantêm afastados das relações sociais apresentam mais problemas de pressão, memória e complicações cardiovasculares. Nessas condições, o risco de morrer aumenta 14%

Isabela de Oliveira
Estado de Minas: 07/03/2014
 
Mais do que triste, a solidão é perigosa para a saúde dos idosos. Uma pesquisa do psicólogo John Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago (EUA), indica que a extrema solidão é tão prejudicial ao corpo quanto a obesidade e aumenta em 14% o risco de morte prematura de quem chegou à terceira idade. Os resultados colocam o isolamento como um fator de risco tão potente quanto a situação socioeconômica desfavorecida, que eleva em 19% as chances de morte precoce. Cacioppo apresentou esses resultados, no mês passado, no congresso American Association for the Advancement of Science Annual, evento ligado à editora da revista científica Science.

“As pessoas subestimam a importância de compartilhar bons momentos com amigos e família”, observa o autor. Mais do que companheirismo, Cacioppo afirma que, independentemente do estágio da vida, são necessárias a assistência e a proteção mútuas. Por isso, ter relacionamentos de qualidade é uma das chaves para a felicidade e a longevidade. “As tensões e os desafios da vida são suportados mais facilmente se podemos compartilhá-los com alguém em quem podemos confiar”, diz o especialista.

Conduzida entre 2010 e 2013, a pesquisa teve como base questionários aplicados a mais de 2,1 mil adultos com mais de 55 anos. Os voluntários responderam a perguntas sobre origem, estado civil, renda e vida social. Durante todo o tempo, foram submetidos a checapes, o que permitiu o monitoramento do estado de saúde deles. Cacioppo conta que encontrou diferenças relevantes nas taxas de declínio da saúde física e mental entre os participantes mais solitários. Os sintomas mais comuns são insônia, depressão, aumento da pressão arterial e dos níveis de cortisol — o hormônio do estresse, responsável por cumprir papel essencial nas respostas de situações de perigo.

Wilson Jacob Filho, coordenador do Núcleo de Geriatria do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, explica que emoções como medo ou ansiedade, dois sentimentos comuns na solidão, perturbam o sistema nervoso autônomo, região que controla a respiração, a circulação do sangue e a temperatura corporal, por exemplo. “Quando se está ansioso, o ritmo respiratório muda, o apetite aumenta, a pessoa come mais e também vai mais ao banheiro”, descreve.

Essas respostas orgânicas aos estados emocionais são chamadas de doenças psicossomáticas. “Muito frequentemente, o paciente que chega ao consultório apresenta esses sintomas e se queixa que eles passaram a ocorrer com a depressão, depois do falecimento do cônjuge ou quando os filhos saem de casa. Pode existir uma maior sensibilidade à dor, predisposição à infecção e maior descontentamento porque a solidão é um exacerbador dessas condições, tornando-as mais evidentes”, explica o geriatra.

Cérebro atingido A médica geriatra Silvana Coelho Nogueira explica que a solidão está ligada também aos problemas de memória. O isolamento social, segundo ela, age na vida dos idosos de modo complexo. Pode ser, por exemplo, um fator de risco para o mal de Alzheimer, doença degenerativa que leva ao declínio cognitivo. “Uma das teorias afirma que o isolamento e a depressão levam ao menor uso das conexões cerebrais, o que gera uma diminuição de neurotransmissores importantes, como dopamina e serotonina, e isso afeta os sistemas de memória”, explica Nogueira.

Há também os impactos cardiovasculares. Segundo a geriatra, eles atingem os mais velhos e qualquer pessoa que tenha disfunções psiquiátricas, como a esquizofrenia. Além da dificuldade em seguir corretamente os medicamentos, esses pacientes, geralmente sedentários, são mais suscetíveis aos riscos da falta de exercícios. “Eles modificam as placas nas artérias coronarianas, podendo culminar em doenças cardiovasculares. Os idosos não devem participar somente da vida em família. Devem viver de forma ativa na sociedade, como grupos da igreja ou de exercícios físicos e viagens”, aconselha a médica.

Wilson sublinha que aspectos ambientais também agravam os prejuízos da solidão. “Viver só e ser o único responsável por tudo, sem ter ninguém para dividir, é um dos aspectos psicológicos que trazem muitos prejuízos emocionais”, diz. Mesmo com a independência física, financeira e psicológica, idosos que vivem dessa forma podem sentir mais dificuldades ao enfrentar situações inesperadas. “Aqueles que têm mais gente ao redor e se sentem apoiados e acompanhados não têm tanta dificuldade em questões relacionadas à prevenção de riscos”, exemplifica.

 O estudo recente vem no encalço de pesquisas anteriores que tentam descobrir qual a relação entre a solidão e as doenças do corpo. Em 1973, o sociólogo norte-americano Robert Weiss definiu a condição como uma “percepção social do isolamento”. Ele a descreveu como “uma doença crônica e corrosiva, sem características de redenção”. A sensação desagradável, observa Cacioppo, acometeu também os primeiros seres humanos. O psicólogo defende que a solidão é uma força evolutiva poderosa, e que os esforços de fugir dela promoveram a ligação dos povos pré-históricos. Foi a partir daí que os primeiros humanos se uniram para conseguir comida, abrigo e proteção com mais sucesso. O psicólogo da Universidade de Chicago chegou a levantar evidências de que a solidão tem um componente hereditário significativo (leia Saiba Mais).


Sempre juntas Por ser um dos motores evolutivos mais eficientes, evitar a solidão e o isolamento também é uma maneira de aumentar a expectativa de vida. A resistência física e mental de idosos com vidas sociais intensas é muito mais forte e, de acordo com Cacioppo, isso ocorre porque eles têm “mais capacidade de enfrentar adversidades”. O pesquisador destaca a importância de fazer parte de tradições familiares, manter contato com os ex-colegas de trabalho e participar de atividades em grupo. Deve-se zelar por três dimensões fundamentais para uma vida mais longa e com mais qualidade de vida: a ligação íntima, a conexão relacional e a conexão coletiva. Em equilíbrio, a tríade afasta os muitos males.

Quem sabe muito bem disso é a cearense Iza Sucupira, de 77 anos. Ela fez amigos lá, entre eles Adecir da Costa Esteves, de 75, e Valda Seixas Fonteneles, de 66. As três se conheceram há pouco mais de um ano e, desde então, se encontram todos os dias em local e horário combinados. Também saem à noite para barzinhos e organizam encontros comunitários com os outros frequentadores da PEC.

“Eu não me sinto deprimida. Quando começo a ficar assim, coloco uma roupa, saio de casa e procuro minhas amigas. Eu me exercito sempre e, quando cheguei a Brasília, há 20 anos, estranhei que as pessoas não conversavam entre si. Mas aprendi a lidar com a cidade e até virei consultora de beleza”, conta Iza. Além de vender cosméticos e perfumes, a cearense coordena mais de 100 revendedoras. “Isso me deixa em contato com muitas pessoas”, conta. Adecir confirma que encontrou uma “família” no grupo. “Comemoramos os aniversários e trazemos lembrancinhas de presente. Sempre levamos a vida com alto-astral”, diz.

A receita do trio de amigas é aprovada e aconselhada por Wilson. O geriatra sugere que os idosos encontrem atividades que lhes façam bem e procurem frequentar locais onde possam compartilhar as opiniões. “O segredo está em empreender uma busca por pessoas que não sejam apenas os familiares e ampliar o universo de relacionamentos. Não se deve viver em função de parentes ou depender deles, que podem estar muito ocupados.” Comprar um bichinho de estimação é uma alternativa interessante para quem gosta de animais, sugere o especialista. “Muitas vezes, os bichinhos são capazes de reduzir a solidão, e isso vale para qualquer idade.”

Saiba mais
Menos na adolescência 
Em 2007, John Cacioppo utilizou dados genéticos de gêmeos holandeses para saber qual era o percentual de influências genéticas e ambientais na solidão de crianças. A amostra foi composta por 7.995 pares de gêmeos, de 7 a 12 anos. Os resultados revelaram que 46% dos sintomas de solidão tinham caráter hereditário, mas com uma significativa incidência de influências ambientais nesse comportamento (12%). Os dados finais das análises genéticas longitudinais foram mais curiosos: a herdabilidade – parâmetro que mede o grau em que a herança influencia uma característica – mudou durante a infância. Cacioppo percebeu que a influência genética é de 60% aos 76 anos, de 54% aos 10 anos e de 17% aos 12. A queda na herdabilidade, segundo ele, pode estar relacionada ao início da puberdade, período em que há uma mudança programada nos hormônios sexuais. Isso faz com que os pré-adolescentes passem a perceber e a buscar outros tipos de relacionamento. Esses resultados, avalia o pesquisador, implicam que a hereditariedade da solidão pode voltar a atuar durante a vida adulta. 

O sorriso do general - Carlos Herculano Lopes‏

O sorriso do general
Carlos Herculano Lopes

carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 07/03/2014

 
Nesses dias de carnaval, durante um recesso no trabalho, aproveitei para fazer algumas coisas. Tenho evitado ao máximo viajar nos feriados devido à loucura das estradas e dos aeroportos. Com o tempo à disposição, dei uma fugida ao São Pedro para ver o desfile do bloco de Aline Calixto e me encontrar com uns amigos. Fui à Praça da Liberdade, onde assisti, com direito até a participar um pouco, as performances das Baianas Ozadas, que arrasaram. Passei pelo Mercado Central para tomar uma cerveja e dar um dedo de prosa com a amiga Ana Araújo no seu salão. E também ouvi muito jazz, com duas feras do gênero: Duke Ellington e Louis Armstrong, cuja genialidade e importância dispensam maiores comentários.

Foi tempo ainda, música à parte, para terminar a leitura de Memória do fogo, de Eduardo Galeano, lançado no Brasil pela L&PM, e com o qual estava envolvido há dois meses. É uma bela trilogia, com mais de 700 páginas, na qual o escritor, de forma que não dá para definir, mas sempre baseado em fatos reais, faz um levantamento da história das Américas do Sul, Central e do Norte, desde a era pré-colombiana até os anos de 1980. Como a música de Duke Ellington e Louis Armstrong, também essa leitura é uma experiência indispensável e única. Não dá para ser a mesma pessoa depois de terminada.

São centenas de pequenas historietas, nas quais Eduardo Galeano, que está pensando em se lançar candidato às próximas eleições para o Parlamento uruguaio, com chances de se eleger, vai nos levando, século a século, a ver como as coisas por aqui, num misto de infâmia, horror e surrealismo, foram sendo construídas. Alguns relatos são surpreendentes, difícil até de acreditar verdadeiros, embora o sejam.

Num deles, só para ficar nesse exemplo, o general Juan Domingo Perón, cuja sombra, como um fantasma, até hoje se faz presente na Argentina, ajudando a definir seus rumos, se encontra exilado em Assunção, no Paraguai. O ano é 1955. Acabava de ser deposto por um golpe de estado. Um dos vários acontecidos no seu país, como de resto em toda a América do Sul. Melancólico, está hospedado na casa de um amigo. Talvez tenha até tomado (não sei se bebia ou não) umas taças a mais de vinho ou caña. Poderia também, vá se saber, estar com alguma saudade de Evita, que por esses tempos havia morrido.

De repente, num gesto teatral, o antes poderoso Perón se levanta, abre os braços e, como se estivesse na sacada da Casa Rosada, diz ao anfitrião, que é todo ouvidos: “Com o meu sorriso, eu levantava multidões”. Depois, sem esconder a decepção, reclama: diz que o povo é ingrato, pensa mais com a barriga do que com o coração. E mais, que não resistiu ao golpe para evitar a morte de milhares de pessoas.

O amigo não ousa falar nada, apenas ouve. É quando o general pergunta: “Você quer o meu sorriso?”. Esse torna a olhá-lo, espantado. Então, Juan Domingo Perón, que tempos depois voltaria fugazmente ao poder, dessa vez já casado com Isabelita, leva um dedo à boca, tira a dentadura e a coloca nas mãos do amigo.

Eduardo Almeida Reis - Notas camelídeas‏

Notas camelídeas

O problema envolvia matemática e camelos, assuntos nos quais não me imiscuo



Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 07/03/2014 

Ruth e Fernando Henrique Cardoso, o senhor e a senhora Jorge Paulo Lemann (ele tem 22 bilhões de dólares), são dois casais que não podem ser acusados de camelice, qualidade, ato ou comportamento de pessoa sem inteligência ou bom senso; burrice, estupidez, idiotice.

No entanto, em 2006, quando FHC já tinha deixado a presidência da República, os dois casais fizeram camelice para ninguém botar defeito: enfrentaram, montados em imensos camelos, um passeio pelo Deserto de Gobi. Como sabe o leitor depois de consultar a Wikipédia, o Deserto de Gobi é um extenso areal situado na região norte da República Popular da China e região sul da Mongólia. A palavra gobi, em mongol, significa deserto, informação que carece de fonte.

Gobi tem 1.600km de leste a oeste e 800 km de sul a norte, regulando em área com o estado brasileiro do Pará. Em valores extremos, as temperaturas no deserto oscilam de 33,9ºC durante o dia a -47ºC durante a noite. É o lar de animais incomuns como o camelo-bactriano e do raríssimo cavalo-de-przewalski.

O Equus przewalskii é uma espécie de equídeo nativa da Mongólia, que se encontrava extinta na natureza e foi reintroduzida no seu hábitat graças a um projeto internacional. Espécie descrita pela primeira vez em 1881 pelo general e naturalista amador russo Nikolaï Mikhaïlovitch Prjevalski, que viajou à sua procura depois de ouvir relatos de sua existência. O último cavalo selvagem foi avistado em 1969, mas o projeto internacional, recorrendo a exemplares da raça existentes nos zoos, conseguiu reintroduzir a espécie.

Não conheço o casal Lemann, que não deve ser criança: Jorge Paulo nasceu em agosto de 1939. Fernando Henrique, em 2006, orçava pelos 76 aninhos e dona Ruth Vilaça Correia Leite Cardoso regulava com ele, daí o meu espanto: fazer turismo, tudo bem, mas conhecer o Deserto de Gobi montando camelos-bactrianos (de duas corcovas) com mais de 70 anos é, salvo melhor juízo, um exagero dos mais exagerados.


Matemática
O suelto que acaba de encantar o pacientíssimo leitor era para ser um simples nariz de cera, mas se espichou até alcançar 328 palavras, quando minha intenção era falar de um texto que circula na internet, que recebi e repassei sem ler, porque não manjo de matemática e não gosto de camelos. Até de Bangcoc, na Tailândia, fui criticado por leitor amigo, dizendo que o texto não é de um livro do Rajneesh (1931-1990), um picareta indiano que andou empulhando os bobos, mas do livro O homem que calculava, de Malba Tahan, pseudônimo do professor Júlio César de Melo e Sousa (1895-1974), um dos maiores divulgadores da matemática no Brasil.

O problema internético falava de um homem que morreu deixando três filhos e 17 camelos. Em seu testamento, estabelecera que a metade dos camelos ficaria para o primogênito, um terço para o segundo e um nono para o caçulo.

A partir daí, o problema envolvia matemática e camelos, assuntos nos quais não me imiscuo. Muito bom esse verbo pronominal imiscuir-se, né? Parece que entrou em nosso idioma no século passado. Imiscuamo-nos, caros e preclaros leitores, em todos os assuntos que não envolvam gramática, matemática e camelos. Pela atenção, muitíssimo obrigado.


Autorização da Justiça
Entre 1853 e 1856, na península da Crimeia, Mar Negro, ao sul da atual Ucrânia, o império russo envolveu-se na chamada Guerra da Crimeia contra o Reino Unido, a França e o Reino da Sardenha, coalizão que contou com o apoio do Império Austríaco.

Naquele tempo, inexistiam os telefones celulares, mas cabe a pergunta: se existissem, teria cabimento pedir autorização à Justiça para gravar os telefonemas das hostes? Hoste vem do latim hostisis, que significa inimigo, adversário, como também “força armada, exército, tropa, bando, multidão etc.”. Daí o fato de o philosopho não especificar “hostes inimigas”, considerando que as hostes podem ser de nosso próprio exército.

O resumo da ópera é o seguinte: vivemos neste 2014 em guerra contra o crime organizado, daí o exagero de pedir autorização judicial para ouvir e gravar os telefonemas dos criminosos.


O mundo é uma bola
7 de março de 321: Constantino I, imperador romano, decreta o Dies Solis (dia do Sol), domingo, como dia de descanso no Império. Mais recentemente, inventaram o sábado e devem atingir a perfeição no dia em que decretarem um dia da semana como dia de trabalhar, porque o pessoal gosta mesmo é de rede, cachaça e corrupção.

Em 1553, Luiz Vaz de Camões recebe carta de perdão, depois de andar preso por trocar espadadas com um certo Gonçalo Borges no dia 16 de junho de 1552.

Em 1557, chega à Baía da Guanabara um grupo de huguenotes liderados pelo católico Nicolas Durand de Villegagnon.

Em 1808, chega ao Rio de Janeiro a Família Real portuguesa. No mesmo dia, o príncipe-regente, futuro dom João VI, libera a instalação de estabelecimentos industriais em qualquer lugar do Brasil.

Em 1876, Alexander Graham Bell patenteia a invenção que chama de telefone.

Em 570, nasceu Childeberto II, rei merovíngio da Austrásia, que morreria, coitado, no ano de 595.

Hoje é o Dia do Fuzileiro Naval.


Ruminanças

“O homem não é feito para meditar, mas para agir” (Rousseau, 1712-1778).